O Natal passou por mim inerte...sequer o gozei!
27 dezembro 2005
15 dezembro 2005
BALÉ
Ontem assisti a Billy Elliot, emocionei-me a farta! Verdadeiramente, o balé é a dança mais poética, mais divina, mais transcendental, mais mágica que há! O bailarino consegue traduzir em movimentos todo o poder encantatório da poesia. Balé é dança por excelência e, por isso, me ressinto de que meus pais não me tenham estimulado na infância. Todavia o fascínio que há em mim ainda é uma força motivadora e, mesmo com 26 anos, sinto-me inclinado a cometer-me a esse sonho. Quiçá não me surpreenda a ver-me dançar!
14 dezembro 2005
ASSASSINOS SERIAIS
Um tema que há muito me tem fascinado, mas pela sua própria natureza assustadora me impõe reservas de ventilá-lo publicamente. No entanto, mesmo a tratar-se de questões de fundo ético-religioso as que me oprimem, decidi-me valentemente ir adiante. Essa tema são a vida e as motivações dos tenebrososAssassinos Seriais . Para esses indivíduos, matar não é apenas uma compulsão psicótica, embora a psiquiatria assim classifique, mas uma forma de arte elevada que tentam conduzir a uma perfeição que se traduz na estupeção e estonteamento das autoridades policiais e no horror cada vez mais mortificante da sociedade. Matar e passar uma mensagem que busque, de alguma forma, a veneração de uns e o medo de outros. Quais as motivações de uma mente assassina, fria, impassiva à dor alheia, estrastegista e ousada? São diversas. Variam conforme a história pessoal, a educação que tiveram, os incidentes havidos no curso da vida. Mas há algo em comum com eles: querem desentranhar alguma forma de angústia que lhes maltrata caladamente a alma. Isso não os torna vítimas, mas um instrumento mortal em suas próprias mãos. A primeira vez que a expressão assassino serial (ou serial killer) apareceu foi na década de 70 pelo agente do FBI Robert Kessler. Antes de Kessler, usava-se a expressãoEstranger Killer (Assassino Desconhecido) por se crer que o assassino não conhecia sua vitima. Quanto às origens psicorgânicas deste comportamento criminoso, estudos conduzidos na década de 1980 revelaram que esses assassinos sofrem de DPA (Distúrbio de Personalidade Anti-Social) e que o percentual afetado é 2,5%, sendo de maior proporção nos homens que nas mulheres. A pesquisa indicou ainda que a maioria das pessoas que disso padece apresenta o mal nos estágios mais baixos, ou seja, sem sua expressão mortal, haja vista pessoas que gostam de maltratar animais, chefes que se comprazem com a humilhaçãode seus subordinados e um apanhado de tipos sociais quie se caracterizam pela incisiva e obstinada perseguição a outras pessoas. Os fatores predisponentes desse mal ainda são objeto de análise corrente, mas apontam os cientistas que quando a doença chega ao seu estado mais avançado, ela é genericamente deflagrada por problemas finaceiros, traumas de abuso sexual, humilhação durante a infância, família mal estruturada, pais ausentes ou indiferente à educação dos filhos, alcoolismo na família, tanto por parte do doente como por de algum familiar etc. As causas primárias são também debatidas. O que se atina como provável é, por um lado, uma má formação na área do cérebro responsável pelo desenvolvimento da personalidade, por outro, admitem-nas como genéticas. Mas um fato absolutamente indiscutível é a que DPA é incurável. Passemos a um exemplo clássico: Ed Gein, um fazendeiro aparentemente pacato que vivia em Plainfiled, Wisconsin, nos EUA. Sua mãe era controladora e não permitia que seus filhos saíssem da fazenda nem mativessem contato com mulheres e os mantinha em integral dedicação ao trabalho. Ao que parecia, sua mãe era lésbica e perturbada e costumava pedir a Deus para que seu marido morresse. Quando Ed ficou sozinho, começou a desenvolver hábitos estranhos, como conservar o cadáver da mãe empalhado, masturbando-se de tempos em tempos sobre ele. Em pouco tempo, varria os cemitérios em busca de corpos recém-enterrados para lhes retirar a pele e confeccionar artefatos como telas de quebra-luzes. Daí a matar foi questão de tempo. Sua primeira vítima foi Mary Hogan, de 54 anos, que matou atiros em dezembro de 1954. Em 1957 , após matar Bernice Horden, deixou indícios que o condenaram, sendo preso seguidamente. A morte de Bernice foi uma ocorrência absolutamente mórbida que chocou os moradores que conheciam Ed Gein. Depois de decapitada, foi erguida com cordas pelas mãos e pés. Ed trabalhou dedicamente em anatomizar seu corpo: seccionou sua genitália e abriu um talho que ia da base do pescoço à pélvis, deixando-o como um cabrito imolado. Na década de 50, Ed Gein foi o mais aterrorizante assassino em série conhecido na América.
12 dezembro 2005
OSACR????????
O Oscar é uma fraude! A academia é ridiculamete tendenciosa, premia o mais badalado, o mais caro, o mais midiático! Duvidam? Analisem o seguite: por que Titanic foi premiado? Um filme que explorou um romancete insípido, os efeitos especiais enquanto o fato histórico permanceu à sombra do Di Caprio! E por que não premiaram Sociedade dos Poetas Mortos no qual Robins Willinas nos conduziu às lágrimas. Alguém aí se lembra da cena final quando os alunos, em honra ao professor, sobem nas carteiras e proferem a célebre frase: "Ó Capitão, meu Capitão!"?
07 dezembro 2005
NADA MUDOU NEM MUDARÁ!!!
O que há comum entre estes homens?? Absolutamente simples, pois a história sempre se repete, não importa quão civilizados nos tornemos, não importa quanto preguemos o amor e a união entre os povos - Querem ser senhores do mundo, absolutos e insuperáveis. Uns usaram a força militar, outros, a força militar e o discurso rácico-ufanista, outras ainda, a força militar e o sentido mais forte e unificador de império; por fim, há o que usa uma das armas mais fatais combinada com leis malditas, alianças parasitárias e, é claro, a força militar, o capitalismo!
05 dezembro 2005
TETRACAMPEÃO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
"Corinthians grande, sempre altaneiro; és do Brasil o clube mais brasileiroooooooooooo!!!!!!!!!!!!!!!"
Como resposta aos maus perdedores, não importa se houve conquista com derrota, pois o rendimento fala por si: Venceu o melhor, o melhor ataque, o melhor aproveitamento!
Como resposta aos maus perdedores, não importa se houve conquista com derrota, pois o rendimento fala por si: Venceu o melhor, o melhor ataque, o melhor aproveitamento!
TETRACAMPEÃO BRASILEIRO 1990 - 1998 - 1999 - 2005
02 dezembro 2005
Como expressou-se o poeta, "Às vezes uma dor me desespera.../Nestas ânsias e dúvidas em que ando, /Cismo e padeço, neste outono, quando / Calculo o que perdi na primavera." É um dobre choroso que o poeta verte, o próprio nome do soneto o diz "Remorso".
Pois, às vezes, uma dor me desespera e me invadem ganas violentas voltar-me contra tudo ao meu redor, num ato de abandono. Sim, sinto-me no desejo de correr o mundo algures e mandar às favas o que me prende aqui. Na minh'alma, esse clamor existencialista doloroso, esse desepero por contatar a mais absoluta verdade real: a vida humana é o mais miserável de todos os absurdos, a mais insensata de todas as existências. Punge-me a vontade de viver a intensidade e a plenitude da carreira reservada ao homem nessa terra. Diante da inultrapassabilidade do espectro da morte e do nada que se lhe segue, calculo o que tenho deixado de fruir e me empenho na busca do tempo perdido. Procurar amigos aqui, ali, alhures, sorrir-lhes uma afeição sem eco no mundo dos homens, abrir a alma a uma compaixão soberana, eliminar a autovontade, que é a feral representação do egoísmo.
Eis aí um projeto a começar...
30 novembro 2005
29 novembro 2005
QUE ANSEIO!!!
É uma lástima usar as máquinas fotográficas convencionais que, apesar de todos os seus recursos, em nada se aproximam das digitais. E eu, como me fico? Padecente!!! Tanto a fazer, tantas imagens a capturar para subi-las à rede e mostrar ao mundo a minha ótica, minha forma de colher, num rápido premer de botão, circuntâncias mais bem percebidas pela lente! No entanto, no momento, esbarro numa dificuldade: como tenho uma reliquial (para não dizer jurássica) máquina manual e o preço das revelações é escabroso, chegando a ultrapassar os R$ 25.00, me vejo contrangido à resignação de simplesmente esperar minhas finanças chegarem a um ponto de equilíbrio. A transição de vida, feita há quase um mês, rendeu-me algumas imposições financeiro-matrimoniais de que não posso desobrigar-me no momento. Resta-me esperar e deseperar até que consiga levar minhas mãos a uma excelente peça digital que fotografe em 35mm com tela LCD.
28 novembro 2005
UMA CARNIÇA
Lembra-te, meu amor, do objeto que encontramos
Numa bela manhã radiante:
Na curva de um atalho, entre calhaus e ramos,
Uma carniça repugnante.
As pernas para cima, qual mulher lasciva,
As pernas para cima, qual mulher lasciva,
A transpirar miasmas e humores,
Eis que as abria desleixada e repulsiva,
O ventre prenhe de livores.
Ardia o sol naquela pútrida torpeza,
Ardia o sol naquela pútrida torpeza,
Como a cozê-la em rubra pira
E para ao cêntuplo volver à Natureza
Tudo o que ali ela reunira.
E o céu olhava do alto a esplêndida carcaça
E o céu olhava do alto a esplêndida carcaça
Como uma flor a se entreabrir.
O fedor era tal que sobre a relva escassa
Chegaste quase a sucumbir.
Zumbiam moscas sobre o ventre e, em alvoroço,
Zumbiam moscas sobre o ventre e, em alvoroço,
Dali saíam negros bandos
De larvas, a escorrer como um líquido grosso
Por entre esses trapos nefandos.
E tudo isso ia e vinha, ao modo de uma vaga,
E tudo isso ia e vinha, ao modo de uma vaga,
Ou esguichava a borbulhar,
Como se o corpo, a estremecer de forma vaga,
Vivesse a se multiplicar.
E esse mundo emitia uma bulha esquisita,
E esse mundo emitia uma bulha esquisita,
Como vento ou água corrente,
Ou grãos que em rítmica cadência alguém agita
E à joeira deita novamente.
As formas fluíam como um sonho além da vista,
As formas fluíam como um sonho além da vista,
Um frouxo esboço em agonia,
Sobre a tela esquecida, e que conclui o artista
Apenas de memória um dia.
Por trás das rochas irrequieta, uma cadela
Por trás das rochas irrequieta, uma cadela
Em nós fixava o olho zangado,
Aguardando o momento de reaver àquela
Náusea carniça o seu bocado.
- Pois hás de ser como essa infâmia apodrecida,
- Pois hás de ser como essa infâmia apodrecida,
Essa medonha corrupção,
Estrela de meus olhos, sol de minha vida,
Tu, meu anjo e minha paixão!
Sim! tal serás um dia, ó deusa da beleza,
Sim! tal serás um dia, ó deusa da beleza,
Após a benção derradeira,
Quando, sob a erva e as florações da natureza,
Tornares afinal à poeira.
Então, querida, dize à carne que se arruína,
Então, querida, dize à carne que se arruína,
Ao verme que te beija o rosto,
Que eu preservei a forma e a substância divina
De meu amor já decomposto!
Charle Baudelaire, in Flores do Mal
25 novembro 2005
CURIOSIDADE
O cardeal belga Gustaf Joos chocou a comunidade homossexual de seu país ao afirmar: "De todos aqueles que chamam a si próprios de gays ou lésbicas, apenas 5 ou 10% são de fato homossexuais. Os outros são todos pervertidos. Os verdadeiros homossexuais não andam pelas ruas com trajes coloridos e vulgares. Esses são pessoas com problemas graves que necessitam de ajuda imediata...!"
24 novembro 2005
O BAILE DOS MORTOS
JOHN SANTERINOSS
A arte de John Santerinoss é profunda, sombria e suprarreal. Fala aos nossos sentimentos mais deseperados e gritantes, mais enraizados e medonhos, traduz um apocalipse do conceito de puridade moral, de equilíbrio, de luz...enfim, reporta-me à arte de Bosch, que traduziu como poucos o sentimento de inquietação através de metáforas visuais da perversão, do demoníaco e de toda imagem que perturba o sentimento religioso. Assim também é Santerinoss.
23 novembro 2005
UMA HOMENAGEM A BIANQUITA
Veio-me n'alma um desejo ingente de dizer-te o quanto és cara para mim, pois me parece que conhecemo-nos há muito e nem há um oceano a separar-nos! À amizade crescente in nobis per semper.
Cuerpo de mujer, blancas colinas, muslos blancos,
Te pareces al mundo en tu actitud de entrega.
Mi cuerpo de labriego salvaje te socava
Y hace saltar el hijo del fondo de la tierra.
Fui solo como un túnel. De mí huían los pájaros
Y en mí la noche entraba su invasión poderosa.
Para sobrevivirme te forjé como un arma,
Como una flecha en mi arco, como una piedra en mi honda.
Pero cae la hora de la venganza, y te amo.
Cuerpo de piel, de musgo, de leche ávida y firme.
Ah los vasos del pecho! Ah los ojos de ausencia!
Ah las rosas del pubis! Ah tu voz lenta y triste!
Cuerpo de mujer mía, persistirá en tu gracia.
Mi sed, mi ansia sin limite, mi camino indeciso!
Oscuros cauces donde la sed eterna sigue, y la fatiga sigue,
Y el dolor infinito.
22 novembro 2005
NUEVO FENÓMENO EN ESPANHA
Amigos,
Viram o furacão que passou no Bernabéu, na cidade de Madri, no último sábado??? Chama-se Ronaldinho Gaúcho!!! Com apenas 25 anos, ele se equiparou a Cruyff e a Maradonna, que saíram ovacionados pela hinchada rival. O gaúcho destruiu o meio-campo e a defesa das merengues que ficaram apenas a ver o baile futebolístico. A expressão do goleiro Cassilas diante dos dois gols últimos dá bem a idéia do terror que a equipe madrilenha passou. O mundo se rendeu ao mágico do futebol. O jornal espanhol El Mundo admitiu: El Bernabéu se tuvo que rendir ante la evidencia!!!
21 novembro 2005
Tenho deparado quão facilmente as pessoas se apegam às convenções sociais, algumas por patologia, outras por pedantismo estúpido e servilismo acéfalo e cego. Estas últimas são objeto inescapável do meu desprezo e fúria punitiva, pois, de certa forma , o incômodo que representam chega até mim. Quando digo convenções sociais, não aludo às regras sobre as quais apóia-se nossa sociedade para manutenção da ordem, do equilíbrio, da moral, dos bons costumes, das tradições sadias etc. Refiro-me, sobretudo, às superficialidasdes burguesas, às ostenções balofas de polidez vazia que, na maioria dos casos, ocultam um idiota disfarçado de homem moral e civilizado, enfim, detesto a ética excremetária desses tipos levianos com sua etiqueta afetada e que não esconde a hipocrisia.
A esse repeito, tomei conhecimento de uma caso absolutamente trivial, mas com seu interesse: estava sentado no meu sofá costumeiro, já vencido de sono tanto que cabeceava. A tv em frente a mim já desvanecia até que ouvi - Bruna Surfistinha (no Programa do Jô). O nome não me pareceu familiar, nunca tinha ouvido antes. Apenas dormi.
No dia seguinte, bradou-me a consciência em lembrança como um eco de algum resquício psicodélico. E fui à rede pesquisar. Confirmei as informações: B. Surfistinha, ex-garota de programa etc. Isso remeteu-me ao blogue da jovem e passei a considerar a sua angústia. Sim, atrevo-me a dizer que é uma angustiada, pois carregará para sempre os estigmas de uma opção infeliz - a perseguição, o assédio moral, as bravatas desaforadas dos hipócritas!
Certamente é de merecida consideração o fato de que será ostensivamente acossada pela opinião arrogante dos que não têm absolutamente respeito pelo ser humano diante de uma possibilidade de mudança, de redenção. As ex-prostitutas não podem gozar de sua civilidade e de sua humanidade como qualquer "puro" cidadão. Acaso têm, por força de uma disposição determinista, que abandonar sua dignidade e viver relegada a uma pura condição biológica e institiva, ou seja, ser uma puta, nada mais que uma puta? É isso o que pensam os presunçosos heróis da moral, não obstante seu discurso fumarento e camuflado pregue a piedade.
Lamentavelmente, vivemos no país da esperteza e da picardia, a matéria-prima do Brasil é um apanhado de velhacos, com suas exceções, é claro. Como escreveu João Ulbaldo Ribeiro, aqui "a esperteza é uma moeda mais valorizada que o dólar!" Que quero dizer com essa intercalação? Simples e sem medo de errar: os mesmos que criticam virulentamente a jovem, que a afligem e esbandalham, que a submetem ao chincalhe vulgar e desgraçante, certamente fazem uso dessa esperteza, dessa velhacaria ao terem o seu caso extraconjugal, ao se banquetearem à farta despendendo somas de dinheiro em festejos inúteis quando há tantos famintos e miseráveis nas ruas; ao promoverem referendos para desviar a atenção do povo da podridão moral que se descortina ante nossos olhos estarrecidos; ao fazerem "gato" de eletricidade, defraudando o vizinho; ao trazerem para casa o que é não seu, tirando do escritório, por acharem que ninguém vai sentir falta, enfim todos estes são os que julgam a jovem por um destino traçado pela sociedade que compõe este país.
A esse repeito, tomei conhecimento de uma caso absolutamente trivial, mas com seu interesse: estava sentado no meu sofá costumeiro, já vencido de sono tanto que cabeceava. A tv em frente a mim já desvanecia até que ouvi - Bruna Surfistinha (no Programa do Jô). O nome não me pareceu familiar, nunca tinha ouvido antes. Apenas dormi.
No dia seguinte, bradou-me a consciência em lembrança como um eco de algum resquício psicodélico. E fui à rede pesquisar. Confirmei as informações: B. Surfistinha, ex-garota de programa etc. Isso remeteu-me ao blogue da jovem e passei a considerar a sua angústia. Sim, atrevo-me a dizer que é uma angustiada, pois carregará para sempre os estigmas de uma opção infeliz - a perseguição, o assédio moral, as bravatas desaforadas dos hipócritas!
Certamente é de merecida consideração o fato de que será ostensivamente acossada pela opinião arrogante dos que não têm absolutamente respeito pelo ser humano diante de uma possibilidade de mudança, de redenção. As ex-prostitutas não podem gozar de sua civilidade e de sua humanidade como qualquer "puro" cidadão. Acaso têm, por força de uma disposição determinista, que abandonar sua dignidade e viver relegada a uma pura condição biológica e institiva, ou seja, ser uma puta, nada mais que uma puta? É isso o que pensam os presunçosos heróis da moral, não obstante seu discurso fumarento e camuflado pregue a piedade.
Lamentavelmente, vivemos no país da esperteza e da picardia, a matéria-prima do Brasil é um apanhado de velhacos, com suas exceções, é claro. Como escreveu João Ulbaldo Ribeiro, aqui "a esperteza é uma moeda mais valorizada que o dólar!" Que quero dizer com essa intercalação? Simples e sem medo de errar: os mesmos que criticam virulentamente a jovem, que a afligem e esbandalham, que a submetem ao chincalhe vulgar e desgraçante, certamente fazem uso dessa esperteza, dessa velhacaria ao terem o seu caso extraconjugal, ao se banquetearem à farta despendendo somas de dinheiro em festejos inúteis quando há tantos famintos e miseráveis nas ruas; ao promoverem referendos para desviar a atenção do povo da podridão moral que se descortina ante nossos olhos estarrecidos; ao fazerem "gato" de eletricidade, defraudando o vizinho; ao trazerem para casa o que é não seu, tirando do escritório, por acharem que ninguém vai sentir falta, enfim todos estes são os que julgam a jovem por um destino traçado pela sociedade que compõe este país.
18 novembro 2005
RENOVATIO TITULI
E implementei mudança no blogue - o título - como que movido pelos anseios mudos de alguns leitores; agora chamem-no A Casa de Usher, que nomeia um dos mais fantásticos contos de Edgar Allan Poe. Roderick Usher é uma amigo de infância do narrador - personagem cujo nome não se refere. Este é convocado a visitá-lo e descobre mudanças surpreendentes na vida e no procedimento do velho Usher, um hipocondríaco de hábitos sombrios e que mora num casarão em cuja descrição Poe se esmera de sorte a deliciar-nos, revelando-nos uma mansão antiga sob nuvens baixas e opressoras - "uma simples casa de propriedade, as paredes áridas, as janelas semelhando a olhos vazios, perdidos no nada, um pequeno canteiro de junças, e uns poucos troncos brancos de árvores apodrecidas..." Assim descreve os primeiros caracteres daquela mansão fantástica que exerceu profunda influência sobre Usher. Como Poe prega em sua Filosofia da Composição, o escritor deve elaborar sua obra com a consideração de um efeito e esse efeito que Poe busca atingir em A Queda da Casa de Usher é o terror, o medo na sua forma mais cruenta que ele já introduz nas páginas iniciais do conto.
Para atingir esse efeito, o conjunto do conto deve estar intimamente ligado a ponto de impor o cenário dominante onde ocorrerão os sucessos espetaculares de medo e desespero ante o desconhecido: o clima é frio, melancólico, domina o inverno ou o outono, pois as folhas caem e ar é cortante; a paisagem é plúmbea, consternadora, invadindo o espírito de modo brutal e terrificante. Os acontecimentos havidos entre o narrador e Usher são perfeitamente estranháveis e estarrecedores, pois a atmosfera sombria é conservada em tudo. A doença dos irmãos gêmeos Usher e Lady Madelaine, a linearidade da descedência familiar, isto é, sem ramificações, as leituras sinistras e assombrosas (e no entanto deliciosas!), as obras de arte, as composições, as improvisações musicais do hipocondríaco à guitarra, suas supertições terríveis acerca da influência que a casa exerceu sobre ele e sua família, os efeitos devastadores que causavam a composição do lago obscurecido, a disposição das pedras, as torres cinzentas, enfim, tudo a respeito da casa pareceu-lhe determinar o destino, trazendo-lhe à moral e à existência um efeito medonho e escatológico.
É uma parte interessantíssima a da condição da irmã Madeleine. Sua doença era um absurdo desafio aos médicos que renderam-se à impossibilidade de cura. A infeliz enferma era afligida, segundo diagnóstico, por uma apatia fixa e torturante que frequentemente a abatia e derreava à cama, até que, por fim, sucumbiu à força extenuante daquele flagelo silencioso e partiu do mundo dos vivos. Inspirado pela leitura de um manual antigo de uma igreja esquecida e, particularmente, sengundo ele, devido à natureza da doença da defunta, Usher decidiu preservar o corpo da irmã durante uma quinzena para a realização de um ritual descrito na obra.
O excesso se percebe em tudo até o clímax do conto com o desaparecimento da casa sob os estrondosos e mortíferos ventos de uma tempestade.
Eis a razão por que escolhi o titulo e tenham-no!!!
Para atingir esse efeito, o conjunto do conto deve estar intimamente ligado a ponto de impor o cenário dominante onde ocorrerão os sucessos espetaculares de medo e desespero ante o desconhecido: o clima é frio, melancólico, domina o inverno ou o outono, pois as folhas caem e ar é cortante; a paisagem é plúmbea, consternadora, invadindo o espírito de modo brutal e terrificante. Os acontecimentos havidos entre o narrador e Usher são perfeitamente estranháveis e estarrecedores, pois a atmosfera sombria é conservada em tudo. A doença dos irmãos gêmeos Usher e Lady Madelaine, a linearidade da descedência familiar, isto é, sem ramificações, as leituras sinistras e assombrosas (e no entanto deliciosas!), as obras de arte, as composições, as improvisações musicais do hipocondríaco à guitarra, suas supertições terríveis acerca da influência que a casa exerceu sobre ele e sua família, os efeitos devastadores que causavam a composição do lago obscurecido, a disposição das pedras, as torres cinzentas, enfim, tudo a respeito da casa pareceu-lhe determinar o destino, trazendo-lhe à moral e à existência um efeito medonho e escatológico.
É uma parte interessantíssima a da condição da irmã Madeleine. Sua doença era um absurdo desafio aos médicos que renderam-se à impossibilidade de cura. A infeliz enferma era afligida, segundo diagnóstico, por uma apatia fixa e torturante que frequentemente a abatia e derreava à cama, até que, por fim, sucumbiu à força extenuante daquele flagelo silencioso e partiu do mundo dos vivos. Inspirado pela leitura de um manual antigo de uma igreja esquecida e, particularmente, sengundo ele, devido à natureza da doença da defunta, Usher decidiu preservar o corpo da irmã durante uma quinzena para a realização de um ritual descrito na obra.
O excesso se percebe em tudo até o clímax do conto com o desaparecimento da casa sob os estrondosos e mortíferos ventos de uma tempestade.
Eis a razão por que escolhi o titulo e tenham-no!!!
16 novembro 2005
Galego
Tenho uma sonante queixa! Lástima! Lástima! Há muito tenho me empenhado em conhecer a normatização da língua galega, para isso hei buscado em todos os lugares óbvios de minha cidade gramáticas galegas ou, pelo menos, manuais explicativos sobre os mecanismos e a história da língua.
Devassei os sebos e as livrarias - amigos galegos, sabeis o que é sebo? Aqui no Brasil é uma designação comum para estabelecimentos de venda de livros usados e antigos. Provavelmente deriva da expressão ensebar, que vem mesmo de sebo na sua acepção metafórica, possivelmente, passar de uma mão à outra, isto é, mudar de proprietário, de leitor. Atualmente, o termo parece estar restrito ao sudeste e ao sul do Brasil, enquanto que no nordeste prefere-se o termo alfarrábio, que é na verdade a designação do próprio livro ou revista usada, mas os nordestinos generalizaram o uso por extensão, uma espécie de metonímia, e a palavra se fiormou. Assim, vasculhei os sebos, dos mais recentes ao mais antigos e nada encontrei que me satisfizesse.
Meu interesse pelo galego tornou-se-me uma acossa, posto que me chamam muito a atenção características peculiares do galego que o tornam um reflexo português arcaico. O uso do "x" no lugar do "j" e "g" portugueses me impressionam bastante. Fico a imaginar um galego-falante aqui no Brasil, causando estranhamento com frases como " Xa está, solteino todo...Despois a realidade (...) díxome que seguía alí, e que con palabras non a podía cambiar." (*) ( Elianinha, se estás a ler esta postagem, não te preocupes, preservarei os direitos autorais :D).
Parece-me, e eu não gostaria de concluir assim, que meu estado é um péssimo modelo na difusão da cultura de línguas de origem ibérica, contribuindo isso para sua já andante desvalorização, haja vista já sermos homiziados pelo preconceito dos que vivem em regiões mais desenvolvidas do país.
Devassei os sebos e as livrarias - amigos galegos, sabeis o que é sebo? Aqui no Brasil é uma designação comum para estabelecimentos de venda de livros usados e antigos. Provavelmente deriva da expressão ensebar, que vem mesmo de sebo na sua acepção metafórica, possivelmente, passar de uma mão à outra, isto é, mudar de proprietário, de leitor. Atualmente, o termo parece estar restrito ao sudeste e ao sul do Brasil, enquanto que no nordeste prefere-se o termo alfarrábio, que é na verdade a designação do próprio livro ou revista usada, mas os nordestinos generalizaram o uso por extensão, uma espécie de metonímia, e a palavra se fiormou. Assim, vasculhei os sebos, dos mais recentes ao mais antigos e nada encontrei que me satisfizesse.
Meu interesse pelo galego tornou-se-me uma acossa, posto que me chamam muito a atenção características peculiares do galego que o tornam um reflexo português arcaico. O uso do "x" no lugar do "j" e "g" portugueses me impressionam bastante. Fico a imaginar um galego-falante aqui no Brasil, causando estranhamento com frases como " Xa está, solteino todo...Despois a realidade (...) díxome que seguía alí, e que con palabras non a podía cambiar." (*) ( Elianinha, se estás a ler esta postagem, não te preocupes, preservarei os direitos autorais :D).
Parece-me, e eu não gostaria de concluir assim, que meu estado é um péssimo modelo na difusão da cultura de línguas de origem ibérica, contribuindo isso para sua já andante desvalorização, haja vista já sermos homiziados pelo preconceito dos que vivem em regiões mais desenvolvidas do país.
14 novembro 2005
AS LÁGRIMAS CONTINUAM...
Ainda sobre Heather O'Rourke, cuja morte me comoveu dolorosamente e me causou uma terrível obsessão por sua história, devo oferecer a quem interessar, por ter sofrido, com eu, essa atordoante consternação de espírito, algumas informações sobre os momentos de agonia de Heather:
"Na noite do dia 30 de 1988, um domingo, a pequena Heather acordou perturbada por um incômodo de saúde que já havia meses que a maltratava. Já em 87, durante a pré-filmagem de Poltergeist III - O Capítulo Final, Heather sentiu os sintomas da doença que foi inicialmente confundida com uma gripe - febre, calafrios etc. Foi levada a um especialista que não deu maiores infromações, razão pela qual muitos culpam o procedimento médico. Por fim, foi à cama dos pais queixar-se de sua condição, mas voltou a dormir. No manhã seguinte, 1 de Fevereiro de 1988, Heather despertou para ir à escola, como de costume, mas, durante a refeição matinal, sua mãe notou que a pequena não estava bem e que não parecia recuperada da aparente gripe que sofrera na última semana.
Seu estado, então, agravou-se e ela desfaleceu repentinamente. A ambulância foi chamada e, no caminho para o hospital, Heather entrou em choque e perdeu a consciência, seguindo-se déficit cardíaco. Foi ressuscitada e transportada para o Centro de Saúde e Hospital da Criança onde foi examinada por um especialista em Condições Críticas da Saúde Infantil.
Uma cirurgia de laparotomia exploratória foi realizada e constatou que ela desenvolveu uma obstrução intestinal que causou uma infecção. Nessa condição grave, o intestino delgado ou grosso fica completamente bloqueado, não havendo assim passagem para trânsito de alimentos por um determinado ponto do canal entérico. Uma cirurgia de emergência foi feita. No caso de Heather, procedeu-se a uma resseção em que a parte danificada do intestino foi removida e ligada a uma extremidade saudável, restaurando as funções da área enferma. Apesar do sucesso da operação, Heather não recobrou a consciência e seu corpo pareceu não ter-se recuperado da infecção. Seguiu-se então um choque séptico, que é uma condição gravíssima em há um excessivo acúmulo de toxinas no sangue devido à uma septicemia (proliferação de microrganismos patogênicos no sangue). Seu quadro se agravou ainda mais e, às 2 horas e 43 minutos daquela tarde de 1º de Fevereiro de 1988, a pequena Heather faleceu.
Em 5 de Fevereiro seu corpo foi sepultado em um pequeno cemitério no centro do histórico distrito de Westwood Village, em Los Angeles. Foi posta entre outras celebridades e a placa que marca seu túmulo diz: "Heather O'Rourke - Amada Filha - Irmã - "Carol Anne" - Poltergeist I,II,III."
Nós sentimos tua falta, Heather!!!
"Na noite do dia 30 de 1988, um domingo, a pequena Heather acordou perturbada por um incômodo de saúde que já havia meses que a maltratava. Já em 87, durante a pré-filmagem de Poltergeist III - O Capítulo Final, Heather sentiu os sintomas da doença que foi inicialmente confundida com uma gripe - febre, calafrios etc. Foi levada a um especialista que não deu maiores infromações, razão pela qual muitos culpam o procedimento médico. Por fim, foi à cama dos pais queixar-se de sua condição, mas voltou a dormir. No manhã seguinte, 1 de Fevereiro de 1988, Heather despertou para ir à escola, como de costume, mas, durante a refeição matinal, sua mãe notou que a pequena não estava bem e que não parecia recuperada da aparente gripe que sofrera na última semana.
Seu estado, então, agravou-se e ela desfaleceu repentinamente. A ambulância foi chamada e, no caminho para o hospital, Heather entrou em choque e perdeu a consciência, seguindo-se déficit cardíaco. Foi ressuscitada e transportada para o Centro de Saúde e Hospital da Criança onde foi examinada por um especialista em Condições Críticas da Saúde Infantil.
Uma cirurgia de laparotomia exploratória foi realizada e constatou que ela desenvolveu uma obstrução intestinal que causou uma infecção. Nessa condição grave, o intestino delgado ou grosso fica completamente bloqueado, não havendo assim passagem para trânsito de alimentos por um determinado ponto do canal entérico. Uma cirurgia de emergência foi feita. No caso de Heather, procedeu-se a uma resseção em que a parte danificada do intestino foi removida e ligada a uma extremidade saudável, restaurando as funções da área enferma. Apesar do sucesso da operação, Heather não recobrou a consciência e seu corpo pareceu não ter-se recuperado da infecção. Seguiu-se então um choque séptico, que é uma condição gravíssima em há um excessivo acúmulo de toxinas no sangue devido à uma septicemia (proliferação de microrganismos patogênicos no sangue). Seu quadro se agravou ainda mais e, às 2 horas e 43 minutos daquela tarde de 1º de Fevereiro de 1988, a pequena Heather faleceu.
Em 5 de Fevereiro seu corpo foi sepultado em um pequeno cemitério no centro do histórico distrito de Westwood Village, em Los Angeles. Foi posta entre outras celebridades e a placa que marca seu túmulo diz: "Heather O'Rourke - Amada Filha - Irmã - "Carol Anne" - Poltergeist I,II,III."
Nós sentimos tua falta, Heather!!!
11 novembro 2005
HEATHER O'ROURKE
Há pouco estive a ponto de chorar. Choro incontido de tristeza! Lástima! Minha natureza é tão depressiva. Mas não seria a expressão de uma tristeza patológica, pois disso não padeço, apesar da ansiedade existencial. O choro proveio da constatação de que eu sou humano e essa característica é uma das que mais me confrangem o coração – importar-me tão seguramente com as desgraças alheias a tal altura que eu as tomo para mim, numa reflexão consumidora de nossa fragilidade. Fragilidade! Eis a palavra que muito bem nos define, pois somos pó e apenas isso. E, entrementes, no curso da vida, experimentamos tudo o que é possível sofrer pelo simples fato de sermos humanos. Ah fragilidade nossa de cada dia, ó sutil, e às vezes grotesca, condição natural que nos oprime e nos amedronta e induz a alma à revolta e ao desespero. Essas considerações me servem para introduzir uma descoberta para mim tardia, para outros, no entanto, creio que muito trivial pelo tempo que passou desde que ocorreu: a morte de Heather O’Rourke, a linda criança loura que interpretou Carol Anne Freeling nos filmes Poltergeist I, II e III.
Sim, aquele anjinho de faces sublimes morreu em 1988 de uma infecção intestinal misteriosa e terrível e eu descobri esse fato funesto só agora. Quiçá o filme tenha me perturbado demais na época (eu tinha só 8 anos) e minha pouca idade me tenha conduzido a uma introversão em relação ao mundo pulsante. Dessarte, a morte daquela criança tão encantadora ficou longe dos meus olhos. Ela teria hoje 32 anos e, na posse desse pensamento, bateu-me uma curiosidade assediante de saber dela, após ter reassistido ao filme, há duas semanas. Triste constatação, consternante surpresa: um sítio em inglês me falou de Heather O’Rourke com solene dor – “On the night of January 30, she woke up and crawled into bed with parents, complaining that she didn’t feel well. She got up the next day, tried to eat some toast, saying that she was going to school. She then fainted. Her fingers turning blue. They flew her in to the emergency room, but it was too late, she died on the operating table at 2:43 p.m. on Monday, Feb. 1st, 1988. We miss you, Heather!” E eu também, querida criança!
Esse sentimento de apavorante tristeza certamente durará semanas, pois sempre me reportarei aos seus olhos azuis e ternos, cativantes e cheios daquela despretensão infantil que nos serve de supremo modelo como ainda viventes. Deus, por que a vida tem que ser tão cruel, por que a inocência tem que sucumbir a essa maldita fragilidade e estiolar-se no nada? Na existência, só há brisas pestilentas e nós respiramo-la sem o saber, cegos por uma esperança desbotada. Diante de tudo isso, desse quadro deplorável de moldura puída e tintas desfeitas, o homem, o supremo ser, a espécie dominante, é um mero joguete do destino, uma marionete da fortuna! Ai de nós, humanos, demasiado humano!
Sim, aquele anjinho de faces sublimes morreu em 1988 de uma infecção intestinal misteriosa e terrível e eu descobri esse fato funesto só agora. Quiçá o filme tenha me perturbado demais na época (eu tinha só 8 anos) e minha pouca idade me tenha conduzido a uma introversão em relação ao mundo pulsante. Dessarte, a morte daquela criança tão encantadora ficou longe dos meus olhos. Ela teria hoje 32 anos e, na posse desse pensamento, bateu-me uma curiosidade assediante de saber dela, após ter reassistido ao filme, há duas semanas. Triste constatação, consternante surpresa: um sítio em inglês me falou de Heather O’Rourke com solene dor – “On the night of January 30, she woke up and crawled into bed with parents, complaining that she didn’t feel well. She got up the next day, tried to eat some toast, saying that she was going to school. She then fainted. Her fingers turning blue. They flew her in to the emergency room, but it was too late, she died on the operating table at 2:43 p.m. on Monday, Feb. 1st, 1988. We miss you, Heather!” E eu também, querida criança!
Esse sentimento de apavorante tristeza certamente durará semanas, pois sempre me reportarei aos seus olhos azuis e ternos, cativantes e cheios daquela despretensão infantil que nos serve de supremo modelo como ainda viventes. Deus, por que a vida tem que ser tão cruel, por que a inocência tem que sucumbir a essa maldita fragilidade e estiolar-se no nada? Na existência, só há brisas pestilentas e nós respiramo-la sem o saber, cegos por uma esperança desbotada. Diante de tudo isso, desse quadro deplorável de moldura puída e tintas desfeitas, o homem, o supremo ser, a espécie dominante, é um mero joguete do destino, uma marionete da fortuna! Ai de nós, humanos, demasiado humano!
10 novembro 2005
O CRIME DE PADRE AMARO
Por essa semana, visitei alguns blogues que debatiam o mesmo assunto. Coincidência? Presumo que não, devo julgar como uma feliz providência do destino. Assim, antecipei minha volta das férias para editar esta postagem e contribuir com os blogueiros que se estão dedicando a este assunto: o filme O Crime de Padre Amaro. Tomei conhecimento de uma versão portuguesa no blogue da Ragazza e me deram venetas terríveis de assistir a ele, mas não sei ainda se estará disponível no Brasil nem sei se foi feito para o cimema. A ver se obtenho mais notícias dessa obra lusa.
Acime publiquei a capa promocional da versão latino-americana com Gael Garcia Bernal, um queridinho desses lados do Atlântico. A produção mexicana recebeu uma indicação ao Oscar, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, recebeu uma indicação ao Globo de Ouro, na categoria Melhor Filme Estrangeiro e uma indicação ao Goya, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro em Língua Espanhola.
A comunidade católica se mostrou reacionária antes mesmo das gravações, tentando de todas a formas possíveis impedir a realização do filme. Um temor inglório e totalmente ridículo devo dizer, pois se houvesse, ainda que minimamente, algum merecimento histórico que essa instituição apresentasse, eu seria o primeiro a protestar contra o filme. Todavia, não há! O que Eça de Queirós denunciou e o filme tratou de materializar foi a mais inconteste verdade reinante no seio do celibato clerical: hipocrisia e corrupção, pseudo-religiosidade e arrogância idolátrica. A começar pela própria instituição do celibato que amputa ao homem as possibilidades de uma felicidade matrimonial concreta que apraz a Deus, pois foi ELE próprio que a determinou por meio de um mandamento estabelecido ainda no Éden.
Acime publiquei a capa promocional da versão latino-americana com Gael Garcia Bernal, um queridinho desses lados do Atlântico. A produção mexicana recebeu uma indicação ao Oscar, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, recebeu uma indicação ao Globo de Ouro, na categoria Melhor Filme Estrangeiro e uma indicação ao Goya, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro em Língua Espanhola.
A comunidade católica se mostrou reacionária antes mesmo das gravações, tentando de todas a formas possíveis impedir a realização do filme. Um temor inglório e totalmente ridículo devo dizer, pois se houvesse, ainda que minimamente, algum merecimento histórico que essa instituição apresentasse, eu seria o primeiro a protestar contra o filme. Todavia, não há! O que Eça de Queirós denunciou e o filme tratou de materializar foi a mais inconteste verdade reinante no seio do celibato clerical: hipocrisia e corrupção, pseudo-religiosidade e arrogância idolátrica. A começar pela própria instituição do celibato que amputa ao homem as possibilidades de uma felicidade matrimonial concreta que apraz a Deus, pois foi ELE próprio que a determinou por meio de um mandamento estabelecido ainda no Éden.
27 outubro 2005
O MESTRE POE
Edgar Allan Poe foi mais que um poeta e escritor. Prestou-se a ser um anunciador do apocalipse da existência interior, sempre conturbada, assolada por conflitos decorrentes dos vícios, da inaceitação, do desajustamento pessoal à existência. Seus personagens não tinham vida própria. Eram tipos marginalizados, neuróticos, compulsivos, degradados, atormentados por estigmas morais, preconceitos, enfim, nada que chegasse a exaltar o belo; era o criador do feio, do tétrico, do sombrio. Por isso, sempre me atraíram tantos suas obras como sua vida.
Notavelmente, quem é diferente, quem se sobrepõe aos demais, quem foge à vulgaridade reinante no seio da sociedade é estigmatizado pela mesma, tratado como pária, estranhado. Assim era Poe, um típico espectro social, absolutamente avesso ao mundo trivial dos homens. Não devo estranhar, pois, que sinto o mesmo ferrete a marcar-me a pele.
À sua época, ele foi o grande responsável pelo sucesso do Graham's Magazine, primeira das grandes revistas americanas modernas, mensário de maior tiragem em todo o mundo. Crítico mordaz, todavia justo, tinha tanta facilidade em despertar admiração quanto em criar inimigos a cada linha que publicava. Antes disso, havia sido elogiosamente recomendado pelo senado e pelo próprio secretário de guerra à Academia Militar de West Point, reduto da tradicional elite americana. Amigo de Charles Dickens (autor de "Oliver Twist" e "Barnaby Jones"), filho único de uma rica família de comerciantes, estudou nas melhores escolas da costa leste americana, da Escócia e da Inglaterra, onde morou por cinco anos.
Até o dia de sua morte, preparou precioso legado composto de poemas (sua obsessão), contos, críticas, ensaios e artigos que seduziram primeiro o público francês e só depois, ironicamente, americanos e ingleses. Para o argentino Jorge Luís Borges, Poe foi o criador do romance policial como gênero literário, pai de Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle e do Hercule Poirot de Agatha Christie, entre todo os outros. Para Charles Baudelaire, mesmo sem conhecê-lo pessoalmente, foi alma gêmea em vida e obra, um exemplo a ser seguido. Júlio Cortázar o tem como marco da literatura norte-americana, um compulsivo criador de personagens intensos.
Foi fonte de inspiração para Mallarmé, Stephen King, Arthur Rimbaud, Paul Valéry, Lautréamont, H.P. Lovecraft, Dostoiévski, Júlio Verne, Apollinaire, espalhando generosamente o brilho de sua contribuição entre sedentos músicos, coreógrafos, quadrinistas e cineastas. O jornalista Ivan Schimdt, seu biógrafo mais recente, confiante na abrangência e universalidade da obra, recomenda um olhar mais atento em sebos e bibliotecas à procura de algum exemplar perdido do mestre. Edgar Allan Poe figura entre os maiores nomes da literatura universal e faz os milhares de nós da evolução humana parecerem ter valido a pena.
A vida do gênio, contudo, não refletiu a glória e o luxo de sua obra. Seus 40 anos de existência lhe reservaram apenas míseros momentos de alegria. Poe foi infeliz, um pária, um deserdado, um abandonado, um viciado, um amante não correspondido, endividado, homem ao qual cabem todos os adjetivos decorrentes da ação do azar e da desgraça. A história tratou deste compulsivo com a mesma injustiça dispensada a outros gênios e só revelou sua importância após a morte, em 1849. Em vida, Poe colecionou reveses e catástrofes íntimas.
Nasceu em 19 de janeiro de 1809, filho de um paupérrimo casal de atores mambembes. O pai David, doente, desapareceu quando o pequeno tinha pouco mais de um ano. A mãe Elizabeth, atriz talentosa e vítima de tuberculose, deixou o jovem órfão antes mesmo de completar os três. Rico exportador de fumo, o casal John e Francis Allan assumiu a tutela do pobre menino e deu ao futuro poeta talvez as únicas oportunidades de sucesso em vida. Apesar do amor de Francis, John e Edgar jamais entraram em acordo: o pai o queria advogado, político e mesmo um comerciante. Poe só pensava na literatura e, desde os 14 ou 15 anos, escondia-se para escrever. Elmira Royster, uma das grandes paixões, surgiu aos seus olhos nesta época.
Aluno de direito na Universidade da Virgínia, aos dezessete anos, Poe dividia-se entre a leitura, a criação e o vício. Desde cedo, mostrava-se fraco para o álcool, além de jogador compulsivo. Em apenas um ano longe da família, suas farras criaram uma dívida de milhares de dólares que, se nunca chegou a ser liquidada, bastou para solidificar as desavenças entre pai e filho. Longe da academia, preferiu fugir de casa e alistar-se com o falso nome de Henry Le Rennét no exército. Fugia, assim, da supervisão paterna, dos credores, do amor esfacelado (Elmira havia de casado) e - talvez exemplo para Sartre, Hemingway e Orwell - encontrava na caserna o tempo para escrever. Seus bons serviços às armas lhe renderam recomendação para West Point, mas o sargento só tinha sentidos para a literatura: como cadete, agüentou lá menos de oito meses.
Nas fases de miséria (elas foram praticamente eternas), Poe se refugiava na casa da tia Maria Clemm, dividindo espaço com a avó paralítica, o irmão igualmente poeta e alcoólatra, a jovem prima e o primo tuberculoso. Nada o impedia de escrever, nada freava a verve para a desgraça. Ao abandonar West Point, reuniu o que lhe sobrava de dinheiro e integridade física (muito pouco), somou ao ímpeto criativo (este, abundante) e investiu na carreira jornalística.
Vagando entre os periódicos de Baltimore, Richmond e New York, Poe iniciou sua fase de sucesso (se é que pode ser assim chamada) como contista e crítico. Sempre em troca de migalhas, estampava clássicos como "O Relato de Arthur Gordon Pym" e "Manuscrito Encontrado Numa Garrafa" nas páginas fugazes dos jornais. Escreveu "A Queda da Casa de Usher", "A Conversa de Eiros e Charmion" e o quase autobiográfico "Willian Wilson" nesse período de relativo reconhecimento.
Aos 23 anos, Poe casava em segredo com a prima Virgínia (sua musa para Annabel Lee, Ligéia, Berenice, Madeline...) de apenas 13 anos. Afundava-se cada vez mais no rum e na morfina, atirava-se como suicida às festas, saraus e noitadas, mas ainda mantinha o pulso com boa caligrafia, o cérebro critico e o vocabulário ferino. Lançou, entre 1831 e 1848, além do já citado "Relato", obras definitivas como "Tales of Grotesque and Arabesque" traduzido por Baudelaire para “Histórias Extraordinárias” título pelo qual ficou conhecida a obra em português, "Romances em Prosa", "Eureka, Um Poema em Prosa" e o eterno "O Corvo e Outros Poemas".
O estilo de Poe voltava-se para o crime investigativo, o terror mórbido e sombrio, e sua beleza e estilo literário são considerados ímpares na literatura mundial. Um escritor, um poeta, que, às vezes, em poucas linhas apenas conseguiu criar obras primas como o conto intitulado: "A Máscara da Morte Rubra", uma de suas mais aclamadas obras.
Em 1847, a bela Virgínia morre depois de longo tempo de sofrimento e Poe começa manifestar os primeiros sintomas de desgaste físico: problemas coronarianos e cérebro lesado pelos aditivos punham o poeta sob constante supervisão médica. Como os pais verdadeiros, o jornalista fazia das viagens uma necessidade constante da profissão e, num destes deslocamentos de barco rumo a Philadelphia, desceu em Baltimore, certamente embriagou-se , caiu doente numa calçada e morreu, praticamente sozinho. Os médicos haviam advertido do perigo de voltar ao copo, mas nem mesmo o casamento já anunciado com o amor da adolescência, Elmira, colocou o indomável sob as amarras do bom comportamento. Mesmo ao morrer, Poe foi um infeliz. A ironia do destino fez com que o homem que passou a vida sob as sombras, retratando-as com inigualável maestria, passou a brilhar apenas após a morte, quando as brumas que arquitetou se espalharam pelo mundo e, ao contrário das tristezas que as deram gênese, transformaram-se em luz criativa.
Notavelmente, quem é diferente, quem se sobrepõe aos demais, quem foge à vulgaridade reinante no seio da sociedade é estigmatizado pela mesma, tratado como pária, estranhado. Assim era Poe, um típico espectro social, absolutamente avesso ao mundo trivial dos homens. Não devo estranhar, pois, que sinto o mesmo ferrete a marcar-me a pele.
À sua época, ele foi o grande responsável pelo sucesso do Graham's Magazine, primeira das grandes revistas americanas modernas, mensário de maior tiragem em todo o mundo. Crítico mordaz, todavia justo, tinha tanta facilidade em despertar admiração quanto em criar inimigos a cada linha que publicava. Antes disso, havia sido elogiosamente recomendado pelo senado e pelo próprio secretário de guerra à Academia Militar de West Point, reduto da tradicional elite americana. Amigo de Charles Dickens (autor de "Oliver Twist" e "Barnaby Jones"), filho único de uma rica família de comerciantes, estudou nas melhores escolas da costa leste americana, da Escócia e da Inglaterra, onde morou por cinco anos.
Até o dia de sua morte, preparou precioso legado composto de poemas (sua obsessão), contos, críticas, ensaios e artigos que seduziram primeiro o público francês e só depois, ironicamente, americanos e ingleses. Para o argentino Jorge Luís Borges, Poe foi o criador do romance policial como gênero literário, pai de Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle e do Hercule Poirot de Agatha Christie, entre todo os outros. Para Charles Baudelaire, mesmo sem conhecê-lo pessoalmente, foi alma gêmea em vida e obra, um exemplo a ser seguido. Júlio Cortázar o tem como marco da literatura norte-americana, um compulsivo criador de personagens intensos.
Foi fonte de inspiração para Mallarmé, Stephen King, Arthur Rimbaud, Paul Valéry, Lautréamont, H.P. Lovecraft, Dostoiévski, Júlio Verne, Apollinaire, espalhando generosamente o brilho de sua contribuição entre sedentos músicos, coreógrafos, quadrinistas e cineastas. O jornalista Ivan Schimdt, seu biógrafo mais recente, confiante na abrangência e universalidade da obra, recomenda um olhar mais atento em sebos e bibliotecas à procura de algum exemplar perdido do mestre. Edgar Allan Poe figura entre os maiores nomes da literatura universal e faz os milhares de nós da evolução humana parecerem ter valido a pena.
A vida do gênio, contudo, não refletiu a glória e o luxo de sua obra. Seus 40 anos de existência lhe reservaram apenas míseros momentos de alegria. Poe foi infeliz, um pária, um deserdado, um abandonado, um viciado, um amante não correspondido, endividado, homem ao qual cabem todos os adjetivos decorrentes da ação do azar e da desgraça. A história tratou deste compulsivo com a mesma injustiça dispensada a outros gênios e só revelou sua importância após a morte, em 1849. Em vida, Poe colecionou reveses e catástrofes íntimas.
Nasceu em 19 de janeiro de 1809, filho de um paupérrimo casal de atores mambembes. O pai David, doente, desapareceu quando o pequeno tinha pouco mais de um ano. A mãe Elizabeth, atriz talentosa e vítima de tuberculose, deixou o jovem órfão antes mesmo de completar os três. Rico exportador de fumo, o casal John e Francis Allan assumiu a tutela do pobre menino e deu ao futuro poeta talvez as únicas oportunidades de sucesso em vida. Apesar do amor de Francis, John e Edgar jamais entraram em acordo: o pai o queria advogado, político e mesmo um comerciante. Poe só pensava na literatura e, desde os 14 ou 15 anos, escondia-se para escrever. Elmira Royster, uma das grandes paixões, surgiu aos seus olhos nesta época.
Aluno de direito na Universidade da Virgínia, aos dezessete anos, Poe dividia-se entre a leitura, a criação e o vício. Desde cedo, mostrava-se fraco para o álcool, além de jogador compulsivo. Em apenas um ano longe da família, suas farras criaram uma dívida de milhares de dólares que, se nunca chegou a ser liquidada, bastou para solidificar as desavenças entre pai e filho. Longe da academia, preferiu fugir de casa e alistar-se com o falso nome de Henry Le Rennét no exército. Fugia, assim, da supervisão paterna, dos credores, do amor esfacelado (Elmira havia de casado) e - talvez exemplo para Sartre, Hemingway e Orwell - encontrava na caserna o tempo para escrever. Seus bons serviços às armas lhe renderam recomendação para West Point, mas o sargento só tinha sentidos para a literatura: como cadete, agüentou lá menos de oito meses.
Nas fases de miséria (elas foram praticamente eternas), Poe se refugiava na casa da tia Maria Clemm, dividindo espaço com a avó paralítica, o irmão igualmente poeta e alcoólatra, a jovem prima e o primo tuberculoso. Nada o impedia de escrever, nada freava a verve para a desgraça. Ao abandonar West Point, reuniu o que lhe sobrava de dinheiro e integridade física (muito pouco), somou ao ímpeto criativo (este, abundante) e investiu na carreira jornalística.
Vagando entre os periódicos de Baltimore, Richmond e New York, Poe iniciou sua fase de sucesso (se é que pode ser assim chamada) como contista e crítico. Sempre em troca de migalhas, estampava clássicos como "O Relato de Arthur Gordon Pym" e "Manuscrito Encontrado Numa Garrafa" nas páginas fugazes dos jornais. Escreveu "A Queda da Casa de Usher", "A Conversa de Eiros e Charmion" e o quase autobiográfico "Willian Wilson" nesse período de relativo reconhecimento.
Aos 23 anos, Poe casava em segredo com a prima Virgínia (sua musa para Annabel Lee, Ligéia, Berenice, Madeline...) de apenas 13 anos. Afundava-se cada vez mais no rum e na morfina, atirava-se como suicida às festas, saraus e noitadas, mas ainda mantinha o pulso com boa caligrafia, o cérebro critico e o vocabulário ferino. Lançou, entre 1831 e 1848, além do já citado "Relato", obras definitivas como "Tales of Grotesque and Arabesque" traduzido por Baudelaire para “Histórias Extraordinárias” título pelo qual ficou conhecida a obra em português, "Romances em Prosa", "Eureka, Um Poema em Prosa" e o eterno "O Corvo e Outros Poemas".
O estilo de Poe voltava-se para o crime investigativo, o terror mórbido e sombrio, e sua beleza e estilo literário são considerados ímpares na literatura mundial. Um escritor, um poeta, que, às vezes, em poucas linhas apenas conseguiu criar obras primas como o conto intitulado: "A Máscara da Morte Rubra", uma de suas mais aclamadas obras.
Em 1847, a bela Virgínia morre depois de longo tempo de sofrimento e Poe começa manifestar os primeiros sintomas de desgaste físico: problemas coronarianos e cérebro lesado pelos aditivos punham o poeta sob constante supervisão médica. Como os pais verdadeiros, o jornalista fazia das viagens uma necessidade constante da profissão e, num destes deslocamentos de barco rumo a Philadelphia, desceu em Baltimore, certamente embriagou-se , caiu doente numa calçada e morreu, praticamente sozinho. Os médicos haviam advertido do perigo de voltar ao copo, mas nem mesmo o casamento já anunciado com o amor da adolescência, Elmira, colocou o indomável sob as amarras do bom comportamento. Mesmo ao morrer, Poe foi um infeliz. A ironia do destino fez com que o homem que passou a vida sob as sombras, retratando-as com inigualável maestria, passou a brilhar apenas após a morte, quando as brumas que arquitetou se espalharam pelo mundo e, ao contrário das tristezas que as deram gênese, transformaram-se em luz criativa.
25 outubro 2005
REFERENDO 2005
Domingo, 23 de Outubro de 2005. Os brasileiros, pela primeira vez em sua história, compareceram às urnas eletrônicas para votar contra ou a favor da proposta a qual governo Lula é favorável: A Proibição do Comércio de Armas de Fogo e Munição no País. O "NÃO" venceu! Os brasileiros foram contra a proibição!Além da monumental perda de tempo que esse referendo representou, pois foram gastos cerca de 202 milhões em sua elaboração, dinheiro que certamente seria mais bem aproveitado em obras sociais e em ações de saúde, entre outras, provou-se também a temeridade da índole do brasileiro, no seu arrojo idiota visto na ânsia de portar uma arma de fogo. É bastante para concluí-lo, analisar o nível do discurso dos defensores do NÃO. Defendiam-se os direitos quanto à segurança pessoal, resistência às investidas da criminalidade etc. Que direitos são esses? Portar um instrumento de morte é um direito? Com quem fim? Matar certamente, nada mais que matar! Essa campanha capciosa e imoral foi apoiada pela maioria do povo, inquestionavelmente bárbara, levada em roda por uma campanha ardilosa que se aproveitou do desbaratamento que hoje vive a sociedade sob poder do crime, de certa forma, com o aval do nosso desbrioso governo no seu cochilo irresponsável. A vitória do NÃO representou para alguns o inconformismo da população brasileira com o nosso aparato humano de segurança pública – ineficiente e desesperante!
Todavia, a campanha do NÃO pregava um heroísmo estúpido, absolutamente disparatado e irrecomendável para qualquer cidadão civil. Quem está, por conseguinte, preparado para um assalto? Quem é habilitado para manejar uma arma de sorte a impor medo a um criminoso, no momento de uma investida que, sem dúvida, acontece sem advertência, pegando o cidadão no seu “descuido”, haja vista a que o bandido nada tem a perder? Inquestionavelmente, pouquíssimas pessoas se preocupam em adquirir técnica de manejo de uma arma e, mesmo nesse caso, é impossível viver em estado de alerta, como quem se prepara para uma guerra; o afã do dia-a-dia, as preocupações constantes em adquirir bens, em sobreviver pelo método natural, isto é, a obtenção de alimentos, vestir-se, pagar as contas, educar os filhos, tratar da saúde, divertir-se etc são, sem dúvida, o expediente da vida moderna que afasta a atenção do homem do desejo insano de tornar-se um “atirador”, um soldado urbano.
Quantos não morreram com o intuito de defender-se? Quantos não morreram por que o bandido, pensando que a vítima tinha uma arma, ao fazer esta um movimento de desespero, alvejou-a sem piedade no trânsito, num beco escuro? O Brasil provou neste domingo que está longe de ser uma civilização, pelo menos no sentido poético do termo, por ter um povo fanfarrão que se julga poderoso e indefectível com uma arma na mão, em sua maioria. O povo não entendeu que certas relações são simples. A proibição não iria findar as mortes por armas de fogo, mas certamente diminuí-las – menos armas, menos mortes. Isto já está comprovado em alguns países. Aqui gastam-se 140 milhões de reais por ano com feridos de arma de fogo, uma soma vultosa que seria sensivelmente escasseada por um ato só exigido pelo bom senso: ir às urnas e votar sim! Mas o NÃO venceu, ponto para a estupidez! Mais lucro para as parasitárias fábricas de armas e para as casas funerárias!
Todavia, a campanha do NÃO pregava um heroísmo estúpido, absolutamente disparatado e irrecomendável para qualquer cidadão civil. Quem está, por conseguinte, preparado para um assalto? Quem é habilitado para manejar uma arma de sorte a impor medo a um criminoso, no momento de uma investida que, sem dúvida, acontece sem advertência, pegando o cidadão no seu “descuido”, haja vista a que o bandido nada tem a perder? Inquestionavelmente, pouquíssimas pessoas se preocupam em adquirir técnica de manejo de uma arma e, mesmo nesse caso, é impossível viver em estado de alerta, como quem se prepara para uma guerra; o afã do dia-a-dia, as preocupações constantes em adquirir bens, em sobreviver pelo método natural, isto é, a obtenção de alimentos, vestir-se, pagar as contas, educar os filhos, tratar da saúde, divertir-se etc são, sem dúvida, o expediente da vida moderna que afasta a atenção do homem do desejo insano de tornar-se um “atirador”, um soldado urbano.
Quantos não morreram com o intuito de defender-se? Quantos não morreram por que o bandido, pensando que a vítima tinha uma arma, ao fazer esta um movimento de desespero, alvejou-a sem piedade no trânsito, num beco escuro? O Brasil provou neste domingo que está longe de ser uma civilização, pelo menos no sentido poético do termo, por ter um povo fanfarrão que se julga poderoso e indefectível com uma arma na mão, em sua maioria. O povo não entendeu que certas relações são simples. A proibição não iria findar as mortes por armas de fogo, mas certamente diminuí-las – menos armas, menos mortes. Isto já está comprovado em alguns países. Aqui gastam-se 140 milhões de reais por ano com feridos de arma de fogo, uma soma vultosa que seria sensivelmente escasseada por um ato só exigido pelo bom senso: ir às urnas e votar sim! Mas o NÃO venceu, ponto para a estupidez! Mais lucro para as parasitárias fábricas de armas e para as casas funerárias!
20 outubro 2005
A Sociedade Poe de Amantes da Arte
Acima, nossa heteria de amantes da literatura, da filosofia e das artes. A tertúlia que aí vedes reúne-se sempre às sextas-feiras, no café do teatro Deodoro, para apresentar suas digressões filosóficas sobre a vida, a arte, a música, expor seus devaneios literários e partilhar os ideais dos mestres Sartre, Camu, Poe, Baudelaire, Thomas Mann etc. Nem todos acima são membros da Sociedade Poe; alguns são convidados, pois nossa confraria é extremamente restrita. Da esquerda para direita: Júnior Gótico (membro), Eliane (convidada), Paula (convidada), Pedro (o moço, [escondido atrás de Paula] convidado), Bruno (convidado), Pedro (o velho??? [eu mesmo, membro fundador]), Jâmeson (convidado) e Salomão (membro). Há ainda outro membro fundador, Wilson, que vedes aí na foto abaixo com cara de borracho!
Da esquerda para direita: Eu, Wilson "Kituti" & Jâmeson.
Obs.: Muito embora não pareça, o Wilson está sóbrio. A expressão borracha dele deve-se a sua aversão às invenções da modernidade. Tão infenso a aparecer em fotos é que não soube conter seu alheamento e deixou o olhar perdido algures rsrsrsrsrsrsrsr!!!!
Obs.: Muito embora não pareça, o Wilson está sóbrio. A expressão borracha dele deve-se a sua aversão às invenções da modernidade. Tão infenso a aparecer em fotos é que não soube conter seu alheamento e deixou o olhar perdido algures rsrsrsrsrsrsrsr!!!!
13 outubro 2005
VERSOS SATÂNICOS
Tenho uma insatisfação a confessar: Há muito apetece-me ler Versos Satânicos, do anglo-indiano Salman Rushdie, hoje com 55 anos e que, por causa de seu posicionamento contra as práticas do Islamismo, revelado no livro, tornou-se símbolo de escritor maldito do século XX. O livro, pelos comentários e análises críticas a que pude aceder, é uma rara oportunidade de ponderar com joeirantes critérios o rumo que tomaram certas religiões cujo sentido espiritual se perdeu há muito, cedendo lugar ao fundamentalismo político camuflado.
Concordo com o fato de respeitar demais as outras religiões é uma atitude que ultrapassa os limites da prudência e se torna uma temeraridade irracional, revelando, com efeito, uma alienação ideológica. De certo, quem respeita as outras religiões, achando que Deus é alcançável por quaisquer meios, revela não seguir nenhuma. É, portanto, um incrédulo, levado em roda por ventos de doutrina, refestelante no seu corformismo preguiçoso, a dormir um cochilo de ignorância. Queres uma prova de que tal postura é inútil? Tenta convencer um árabe de que Jesus é o Senhor, o Filho de Deus! Já sabes o resultado, não? Então, puxemos as orelhas de Maomé e mandemo-lo às favas. Afinal, segundo Rushdie, o suposto profeta teve visões que foram mais psicodélicas do que propriamente inspiracionais, de alguma divindade.
Em tempo, Chateaubrinad, em O Gênio do Cristinismo, se propôs a provar que a religião de Cristo é a mais poética, a mais humana e mais sublime, apesar de sua índole católica.
Quanto ao livro, o tenho procurado a farta e exaustivamente, mas nossas editoras (as alagoanas), parece-me, não têm o bom senso de publicar obra tão instigante. Há pouco, cheguei a deparar uma edição em uma banca de alfarrábio, mas o jornaleiro-alfarrabário já a tinha reservado a outro interessado.
Concordo com o fato de respeitar demais as outras religiões é uma atitude que ultrapassa os limites da prudência e se torna uma temeraridade irracional, revelando, com efeito, uma alienação ideológica. De certo, quem respeita as outras religiões, achando que Deus é alcançável por quaisquer meios, revela não seguir nenhuma. É, portanto, um incrédulo, levado em roda por ventos de doutrina, refestelante no seu corformismo preguiçoso, a dormir um cochilo de ignorância. Queres uma prova de que tal postura é inútil? Tenta convencer um árabe de que Jesus é o Senhor, o Filho de Deus! Já sabes o resultado, não? Então, puxemos as orelhas de Maomé e mandemo-lo às favas. Afinal, segundo Rushdie, o suposto profeta teve visões que foram mais psicodélicas do que propriamente inspiracionais, de alguma divindade.
Em tempo, Chateaubrinad, em O Gênio do Cristinismo, se propôs a provar que a religião de Cristo é a mais poética, a mais humana e mais sublime, apesar de sua índole católica.
Quanto ao livro, o tenho procurado a farta e exaustivamente, mas nossas editoras (as alagoanas), parece-me, não têm o bom senso de publicar obra tão instigante. Há pouco, cheguei a deparar uma edição em uma banca de alfarrábio, mas o jornaleiro-alfarrabário já a tinha reservado a outro interessado.
07 outubro 2005
ADORAÇÃO
Procurava um meio de homenagear as mulheres, exaltar-lhes o poder de alumbramento, sublimar-lhes o encanto que lhes é tão próprio, com uma contribuição baudelaireana. Uma amiga sugeriu-me visitar o seguinte sítio: www.georgiaaflordapele.blogspot.com.
A princípio, senti-me um pouco desconcertado quando fitei os olhos em imagens tão evocadores da sexualidade. Correram-me calafrios tenebrosos nas costas e as já conhecidas sensações másculas urgiram por aflorar a alma. Mas compenetrei-me no meu objetivo e procurei julgar sem pré-concepções estouvadas. Um sítio levou a outro e eis que vagueei os olhos por www.blogxdyke.blogger.com.br , www.lolady.weblogger.terra.com.br
E a idéia brotou-me: A que é muito alegre...
A princípio, senti-me um pouco desconcertado quando fitei os olhos em imagens tão evocadores da sexualidade. Correram-me calafrios tenebrosos nas costas e as já conhecidas sensações másculas urgiram por aflorar a alma. Mas compenetrei-me no meu objetivo e procurei julgar sem pré-concepções estouvadas. Um sítio levou a outro e eis que vagueei os olhos por www.blogxdyke.blogger.com.br , www.lolady.weblogger.terra.com.br
E a idéia brotou-me: A que é muito alegre...
Teu ar, teu gesto, tua fronte
São belos qual bela paisagem;
O riso brinca em tua imagem
Qual vento fresco no horizonte.
A mágoa que te roça os passos
Sucumbe à tua mocidade,
À tua flama, à claridade
Dos teus ombros e dos teus braços.
As fulgurantes, vivas cores
De tua vestes indiscretas
Lançam no espírito dos poetas
A imagem de um balé de flores.
Tais vestes loucas são o emblema
De teu espírito travesso;
Ó louca por quem enlouqueço,
Te odeio e te amo, eis meu dilema!
Certa vez, num belo jardim,
Ao arrastar minha atonia,
Senti, como cruel ironia,
O sol erguer-se contra mim;
E humilhado pela beleza
Da primavera ébria de cor,
Ali castiguei numa flor
A insolência da Natureza.
Assim eu quisera uma noite,
Quando a hora da volúpia soa,
Às frondes de tua pessoa
Subir, tendo à mão um açoite,
Punir-te a carne embevecida,
Magoar o teu peito perdoado
E abrir em teu flanco assustado
Uma larga e funda ferida,
E, como êxtase supremo,
Por entre esses lábios frementes,
Mais deslumbrantes, mais ridentes,
Infundir-te, irmã, meu veneno!
06 outubro 2005
MUTATIS MUTANDIS
Breve, implemento mudança no nome do blogue. Não que tenha eu me enfastiado com Heautontimorumenos, eu certamente adoro esse nome, pois conheci-o lendo meu poeta favorito, Baudelaire. Contudo por que mudar? - perguntai-me. Estou à cata de um nome que reflita melhor a natureza deste blogue e o atual, embora exprima particularidades minhas, não representa meu ideal de título.
Vou vasculhar os meus alfarrábios, vou pedir sugestão a alguma divindade literária, como Calíope, para encontrar o nome ideal. Até lá, caríssimos!
Vou vasculhar os meus alfarrábios, vou pedir sugestão a alguma divindade literária, como Calíope, para encontrar o nome ideal. Até lá, caríssimos!
05 outubro 2005
AVISO AOS RAROS VISITANTES
Quando cogitei de criar e manter um blogue, pensei na multiplicidade de pessoas que podia alcançar, na transnacionalidade, na pluriculturalidade de indivíduos que minha ãnsia intentava. Pensei: seria interessante manter contato com pessoas de diversas formações, de variegadas origens através de temas que vão da filosofia à arte, da ciência à religião e, por conseguinte, avaliar suas visões, suas formas perculiares de entender a vida. Sim, é realmente cativante pensar nisso.
Mas a lástima maior é que só tenho escrito para mim, por força do desinteresse dos raros visitantes, talvez, não quero formalizar um juízo temerário, mas tenho sido aqui, neste blogue, uma voz solitária. Se é para escrever para mim, basta-me então caneta e papel, como sempre fiz antes de minha aderência à "blogomoda".
Se alguém acha que minha queixa é imprópria, reportemo-nos aos fatos: dos "amigos" que conheci via blogue, muitos há que sequer esforço literário ou de outra ordem fizeram (não quero desmerecer ninguém, por favor) para merecer uma visita crítica, pensada, ou mesmo aleatória e ler uma saudação mais demorada. Outros não buscaram com ãnsia alguns contatos pelo mundo blogueiro afora, simplesmente eles apareceram ex nihilo e se fizeram a si mesmos visitantes constantes. Tenho visto blogues com 20, 30 e mais comentários entusiasmados, até mesmo a respeito de fatos absolutamete triviais. No entanto, lá estão eles...sempre presentes!
E doe-me então sofrer a indiferença, pois tenho sido um obeservador impassivo e atento dos temas mais interessantes desenvolvidos na blogosfera, todavia como tarda a retribuição!...
Por isso tenho pensado em encerrar este blogue, deixando-o como uma relíquia de uma tentativa profílica frustrada. Mais uma...
Mas a lástima maior é que só tenho escrito para mim, por força do desinteresse dos raros visitantes, talvez, não quero formalizar um juízo temerário, mas tenho sido aqui, neste blogue, uma voz solitária. Se é para escrever para mim, basta-me então caneta e papel, como sempre fiz antes de minha aderência à "blogomoda".
Se alguém acha que minha queixa é imprópria, reportemo-nos aos fatos: dos "amigos" que conheci via blogue, muitos há que sequer esforço literário ou de outra ordem fizeram (não quero desmerecer ninguém, por favor) para merecer uma visita crítica, pensada, ou mesmo aleatória e ler uma saudação mais demorada. Outros não buscaram com ãnsia alguns contatos pelo mundo blogueiro afora, simplesmente eles apareceram ex nihilo e se fizeram a si mesmos visitantes constantes. Tenho visto blogues com 20, 30 e mais comentários entusiasmados, até mesmo a respeito de fatos absolutamete triviais. No entanto, lá estão eles...sempre presentes!
E doe-me então sofrer a indiferença, pois tenho sido um obeservador impassivo e atento dos temas mais interessantes desenvolvidos na blogosfera, todavia como tarda a retribuição!...
Por isso tenho pensado em encerrar este blogue, deixando-o como uma relíquia de uma tentativa profílica frustrada. Mais uma...
27 setembro 2005
PODOESTETOLATRIA
Os pés são táteis como as mãos. Essa afirmação tem mais implicações do que aparenta, pois não convém vê-los somente com os olhos físicos. Ivan Ângelo, em uma deleitosa crônica erótica sobre os pezinhos femininos, chamou-me a atenção para isso. Ele disse: “Alertam (os pés) para o que é áspero e para o que é suave...”
Não me dei por pago. Decidi entender a fisiologia dos pés feminis, perscrutar-lhes a anatomia. Imagens sobre imagens, linhas, curvas, vincos, pregas teciduais, lóbulos, unhas, pêlos, pele, sombra, luz, flexibilidade, maciez, calcanhar, encanto...tudo isso sobredourado por adornos cosméticos – esmaltes, cremes, talcos etc.
Uma admirável constituição! Partes tão bem ligadas, tão cheias de mimo, dominadoras no conjunto. Castro Alves cantou os pés de suas musas e Dostoievski, num arrebatamento singular, admitiu: “Sob teus pés ponho os meus sonhos; pisa-os com cuidado, pois são meus sonhos que pisas!”. Um inclinado podólatra? Aliás, tal palavra é mais disseminada no Brasil que em Portugal. No inglês, “footfetish”, literalmente ‘feitiço do pé’. Mas não é esse o termo, que tem um árduo estigma. No caso do escritor Russo e de tantos outros, aplica-se muito corretamente o termo “podoesteta”. Sim, pois para eles os pés (femininos, diga-se de passagem) são objetos de contemplação estética e não apenas um elemento de libido. Pablo Neruda não podia deixar de ser citado: “Quando não posso contemplar teu rosto, contemplo teus pés... mas se amo os teus pés é porque nadaram sobre o vento, sobre a terra e sobre a água até me encontrarem”.
Lembrei-me da definição de Machado de Assis a cerca da menina-moça: “Uma rosa entreaberta, um botão entrefechado”. Não se referiu, pois, aos pés de alguma de suas personagens marcantes, mas a licença poética que se me dá aqui me permite aplicar essa metáfora machadiana aos esses belos camafeus do corpo feminino.
Na fisiologia do beijo, impõe-se a sua reatividade, pois eles dizem de suas possuidoras mais do que elas imaginam. O amante desliza os lábios pelo dorso, cevando cada polegada de pele. Os dedos retesam-se e parecem clamar pelos lábios que se avizinham ávidos, já senhores de seu objeto. Para submete-los à total mercê, o amante roça de leve a borda da gelha entre os dedos, uma a uma, levando os lábios aos lóbulos, a língua às pontas, tomando-as de súbito. Mas, voltando à sutileza de toque, tomam-se os lóbulos com a boca até o limite da comissura com o corpo dos dedos e engolem-se por inteiro. A essa altura, a mulher já se extasia e as sensações migram para áreas mais afogueadas. As saliências do corpo se edemificam e o torpor caminha para o ápice.
As coxas, no seu ardente embate, como se resguardassem desesperadas o plúmbeo e fogacento báculo de explodir, não querem mais se aproximar um da outra e, entregando-se à volúpia que lhes convulsiona as carnes, se mioespasmam em direção ao infinito. O amante, com a boca já entregue à sola, compensando o arroubo anterior com o festejo das cosquilhas, vê então os lábios de sua Vênus, de contraído esgar de gozo, passar à soltura do riso até retornar ele a frenética sucção nos dedos. Agora não mais individualizada, mas em grupos, dois a dois, três a três!
Eis o beijo amoroso aplicado aos pés, pois estes recebem todas as emanações do corpo da mulher, basta que ela se dispa, levando a eles a calidez da guardiã dos pelos púbicos.
Não me dei por pago. Decidi entender a fisiologia dos pés feminis, perscrutar-lhes a anatomia. Imagens sobre imagens, linhas, curvas, vincos, pregas teciduais, lóbulos, unhas, pêlos, pele, sombra, luz, flexibilidade, maciez, calcanhar, encanto...tudo isso sobredourado por adornos cosméticos – esmaltes, cremes, talcos etc.
Uma admirável constituição! Partes tão bem ligadas, tão cheias de mimo, dominadoras no conjunto. Castro Alves cantou os pés de suas musas e Dostoievski, num arrebatamento singular, admitiu: “Sob teus pés ponho os meus sonhos; pisa-os com cuidado, pois são meus sonhos que pisas!”. Um inclinado podólatra? Aliás, tal palavra é mais disseminada no Brasil que em Portugal. No inglês, “footfetish”, literalmente ‘feitiço do pé’. Mas não é esse o termo, que tem um árduo estigma. No caso do escritor Russo e de tantos outros, aplica-se muito corretamente o termo “podoesteta”. Sim, pois para eles os pés (femininos, diga-se de passagem) são objetos de contemplação estética e não apenas um elemento de libido. Pablo Neruda não podia deixar de ser citado: “Quando não posso contemplar teu rosto, contemplo teus pés... mas se amo os teus pés é porque nadaram sobre o vento, sobre a terra e sobre a água até me encontrarem”.
Lembrei-me da definição de Machado de Assis a cerca da menina-moça: “Uma rosa entreaberta, um botão entrefechado”. Não se referiu, pois, aos pés de alguma de suas personagens marcantes, mas a licença poética que se me dá aqui me permite aplicar essa metáfora machadiana aos esses belos camafeus do corpo feminino.
Na fisiologia do beijo, impõe-se a sua reatividade, pois eles dizem de suas possuidoras mais do que elas imaginam. O amante desliza os lábios pelo dorso, cevando cada polegada de pele. Os dedos retesam-se e parecem clamar pelos lábios que se avizinham ávidos, já senhores de seu objeto. Para submete-los à total mercê, o amante roça de leve a borda da gelha entre os dedos, uma a uma, levando os lábios aos lóbulos, a língua às pontas, tomando-as de súbito. Mas, voltando à sutileza de toque, tomam-se os lóbulos com a boca até o limite da comissura com o corpo dos dedos e engolem-se por inteiro. A essa altura, a mulher já se extasia e as sensações migram para áreas mais afogueadas. As saliências do corpo se edemificam e o torpor caminha para o ápice.
As coxas, no seu ardente embate, como se resguardassem desesperadas o plúmbeo e fogacento báculo de explodir, não querem mais se aproximar um da outra e, entregando-se à volúpia que lhes convulsiona as carnes, se mioespasmam em direção ao infinito. O amante, com a boca já entregue à sola, compensando o arroubo anterior com o festejo das cosquilhas, vê então os lábios de sua Vênus, de contraído esgar de gozo, passar à soltura do riso até retornar ele a frenética sucção nos dedos. Agora não mais individualizada, mas em grupos, dois a dois, três a três!
Eis o beijo amoroso aplicado aos pés, pois estes recebem todas as emanações do corpo da mulher, basta que ela se dispa, levando a eles a calidez da guardiã dos pelos púbicos.
26 setembro 2005
LINGÜÍSTICA, CIÊNCIA POR EXCELÊNCIA
Certa feita conversava com uma jovem galega que não escondia sua preferência pelo português ao galego. Pedi-lhe então que me escrevesse em galego. Ela atendeu-me por uns breves segundos, depois rematou enfaticamente: "Fartei-me de escrever nessa merda!"
Vi, com grande lástima, que ela não pensa como um lingüista. Um dos maiores pecados do homem é não pensar como um lingüista.
23 setembro 2005
MULHERES MALDITAS
À tíbia das lamparinas voluptuosas, sobre sensuais coxins impregnados de essência, sonhava Hipólita as carícias poderosas que lhe erguiam o véu da púbere inocência. Ela buscava, o olhar na tempestade posto, de sua ingenuidade o céu distante agora, como um viajante para trás volve o seu rosto em busca da manhã que já se foi embora.Os olhos já sem viço, o preguiçoso pranto, o ar exausto, o estupor, lúbrica moleza. Os barcos sem ação, como armas vãs a um canto, tudo afinal lhe ungia a tímida beleza. Posta a seus pés, serena e cheia de alegria, Delfina lhe lançava à carne olhos ardentes, como o animal feroz que a vítima vigia, após havê-la antes marcado com seus dentes. Bela e viril de joelhos ante a frágil bela, soberba, ela sorvia com volúpia intensa o vinho da vitória e, acercando-se dela, punha-se à espera de uma doce recompensa. No pasmo olhar da presa ela buscava aflita ouvir o canto que o prazer sem voz entoa, e essa sublime gratidão que arde infinita e, qual suspiro, sob as pálpebras escoa.- "Hipólita, amor meu, que me dizes então?Compreendes quão pueril é oferecer agora em holocausto as tuas rosas em botão a um sopro que as pudesse espedaçar lá fora? Meus beijos são sutis como asas erradias que afagam pela tarde os lagos transparentes, mas os de teu amante hão de escavar estrias como as carroças e os arados inclemente; sobre ti passarão qual sobre alguém pisasse uma junta de bois os cascos sem piedade...Hipólita, meu bem! Volve pois tua face, tu, coração, que és o meu todo e és a metade, volve teus olhos cheios de astros como os céus! Dá-me esse olhar que é como um bálsamo bem-vindo; do prazer mais sombrio eu erguerei os véus e hei de fazer-te adormecer num sonho infindo! "Mas Hipólita então a fronte levantando:- "Não sou ingrata e do que fiz não me arrependo, minha Delfina, eu sofro e à dor vou definhando, como após um festim crepuscular e horrendo. Sinto pesarem em mim graves terrores e negros batalhões de fantasmas dispersos, que querem conduzir-me a fluidos corredores num sangüíneo horizonte em toda parte imersos. Teremos cometido algum pecado extremo? Explica, se é capaz, o medo que me acua: se me dizes: Meu anjo! Eu de alto a baixo tremo e sinto minha boca ir em busca da tua.
Chareles Baudelaire, em Flores do Mal
20 setembro 2005
UNDER SUBURBAN SKY
Morar no subúrbio é um insulto à paciência. Isso me tem apoquentado desde anos remotos, quando eu ainda respirava seus ares com bofes pueris, virgem de tantas coisas que hoje se me amontoam à roda. Pois o interior de meu estado, Alagoas, me enfastia e molesta de tal forma que não consigo manter a tranquilidade por alguns momentos diante da atmosfera aborrecente que me circunda. A vida provinciana aqui não é encantatória como na Europa. É o tédio da monotonia. Como agravante, os hábitos vulgares de alguns moradores, em suas ocupações mesquinhas e vazias, como freqüentar tabernas infectas e ordinárias de esquina, reproduzindo suas cantilenas insulsas, destituídas de qualquer sentido que lhes dê algum caráter musical, acabam por completar o quadro decadente que se descortina à vista, num visita aos seus arrabaldes.
Não quero aqui desmerecer o lugar em que vivo, ele tem seus atrativos e comodidades, mas, infelizmente, estes são sufocados pela confragosidade da canalhada que o habita, desaparecem em meio à bandalha que o desnobilita.É uma lástima.
Confrange-me o espírito um lugar sem opções culturais. Livrarias, bibliotecas, museus, exposições em galerias, efervescência intelectual, rodas literárias, cafés filosóficos - isso é a belle époque dos sonhos. Minha alma é constituída de arte, meus alvéolos pulmonares necessitam captá-la; meus olhos, perlustrá-la.
Logo, tenho que fixar-me na capital, como Luciano de Rubempré.
09 setembro 2005
AMOR - PALAVRA ESSENCIAL
Moralistas, perdoai-me, pois cedi à poética profunda de Drummond. Há muito o julguei um poeta por demais comum, pois o Modernismo sempre me foi insípido. A Drummond, todavia, resolvi fazer essa exceção, pelo modo veraz e crucial como fala sobre esse sentimento atormentante que não se manifesta apenas no âmbito do espírito, mas se espalha nos lençóis da cama e roça em cada poro do corpo.
Amor, guia o meu verso!
Amor - pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.
Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro gritode orgasmo, num instante de infinito?
O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.
Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da própria vida,
como ativa abstração que se faz carne,a idéia de gozar está gozando.
E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, arquejos, ais,um só espasmo em nós atinge o climax:
é quando o amor morre de amor, divino.Quantas vezes morremos um no outro,
nu úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:a pausa dos sentidos, satisfeita.
Então a paz se instaura. A paz dos deuses,estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um Deus acrescenta o amor terrestre.
05 setembro 2005
25 agosto 2005
GALEGOFILIA!!!
12 agosto 2005
Noites e Brumas
Por estas noites frias e brumosas
É que melhor se pode amar, querida!
Nem uma estrela pálida, perdida
Entre a névoa, abre as pálpebras medrosas
Mas um perfume cálido de rosas
Corre a face da terra adormecida ...
E a névoa cresce, e, em grupos repartida,
Enche os ares de sombras vaporosas:
Sombras errantes, corpos nus, ardentes
Carnes lascivas ... um rumor vibrante
De atritos longos e de beijos quentes ...
E os céus se estendem, palpitando, cheios
Da tépida brancura fulgurante
De um turbilhão de braços e de seios.
Olavo Bilac, poeta parnasiano brasileiro
11 agosto 2005
Ecce Civita Mea
Eis aí minha cidade, Maceió. Essa é a visão de uma de suas partes nobres e de elevado interesse turístico. O bairro de Ponta Verde que atrai anualmente a vista deslumbrada de europeus, latino-americanos e anglo-americanos ávidos por consumir nossos "souvernirs". Em tempo, o bairro se chama Ponta Verde por razões evidentes que estão à cara: ele literalmente tem a forma de uma ponta de terra e está rodeado por convidativas águas glaucas, como podem ratificar.
02 agosto 2005
THERION IN CONCERT
Alguém aí na web conhece Therion? É uma de minhas bandas preferidas, pois tem a virtude do bom senso: optar por um estilo diferenciado do ramerrão geral, fundem o peso dos metais com a sutileza divina dos coros medievais em que se destacam as belíssimas vozes de sopranos, tenores, barítonos, baixos etc.
20 julho 2005
PUGNA GLADIATORIUM
Esta é uma postagem tardia, mas hoje pela manhã deram-me venetas de subir esta foto à rede. A imagem de um triunfo que lavou-nos a alma (que peninha dos argentinos!!!) e revigorou-nos a confiança para o certamen do ano entrante. Se futebol esplendoroso demonstrado na final da copa das confederações for repetido em 2006, esse gesto glorioso voltará a ser visto pelos olhos alumbrados do mundo. Brazil is gonna keep on the top, exalt the champions!!!
19 julho 2005
NOSFERATU
Um tema fascinante, de evidência irresistível, profundo e violento, eis o vampirismo. Desde as lendas antigas arraigadas na cultura européia até as literaturas modernas, o vampiro se faz presente na sua imponência, na sua majestade sombria, no seu mistério impenetrável. Um mito de séculos, mas tão real quanto qualquer crença, desde que a imaginação e o fascínio pelo hórrido, pelo macabro o tornem vivo.
Apesar de ter sido absorvida pela cultura de massa e muitos de seus aspectos terem sido banalizados por uma exploração vulgar, a figura do vampiro continua sendo apaixonante, malgrado os óbices religiosos que eu próprio confesso professar. Sim, é demoníaco e tenebroso? Quem segue sua trilha de sangue, a sua jormada medonha pelos séculos faz uma concessão a Satanás? Sim e não, pois o fascínio que ele desperta não é apenas objeto de culto, mas, necessariamente, de pesquisa antropológica.
Quantas vezes não foi a figura do vampiro um meio de expressão metafórica para traduzir as angústias humanas despertadas pela ânsia diante da morte? O desejo de eternidade que sempre permeou a alma do homem que se debatia por afugentar o espectro da morte do átrio do banquete universal.
Trabalhando tais questões, decobri, recentemente, VOIVODE – Estudos Sobre Vampiros – uma obra que me espicaçou o interesse e que se propõe analisar essas e outras questôes, apresentando o tema nas suas realidades histórica e cultural, oferecendo textos que exploram o seu rico universo mítico; ademais, VOIVODE também se preocupa em averiguar a projeção não apenas literária do vampiro, mas também psicológica e antropológica.
Obra imprescindível para todo aquele que se banqueteia com um mistério que povoa o imaginário humano há séculos.
Apesar de ter sido absorvida pela cultura de massa e muitos de seus aspectos terem sido banalizados por uma exploração vulgar, a figura do vampiro continua sendo apaixonante, malgrado os óbices religiosos que eu próprio confesso professar. Sim, é demoníaco e tenebroso? Quem segue sua trilha de sangue, a sua jormada medonha pelos séculos faz uma concessão a Satanás? Sim e não, pois o fascínio que ele desperta não é apenas objeto de culto, mas, necessariamente, de pesquisa antropológica.
Quantas vezes não foi a figura do vampiro um meio de expressão metafórica para traduzir as angústias humanas despertadas pela ânsia diante da morte? O desejo de eternidade que sempre permeou a alma do homem que se debatia por afugentar o espectro da morte do átrio do banquete universal.
Trabalhando tais questões, decobri, recentemente, VOIVODE – Estudos Sobre Vampiros – uma obra que me espicaçou o interesse e que se propõe analisar essas e outras questôes, apresentando o tema nas suas realidades histórica e cultural, oferecendo textos que exploram o seu rico universo mítico; ademais, VOIVODE também se preocupa em averiguar a projeção não apenas literária do vampiro, mas também psicológica e antropológica.
Obra imprescindível para todo aquele que se banqueteia com um mistério que povoa o imaginário humano há séculos.
13 junho 2005
Deparou-se-me algo impressionantemente curioso nesta rede vasta, chama-se Endelva, uma garota grega que reside em Derby, na Inglaterra; ela é enigmatica, tem um olhar performático, algo que lhe serve a contento, cuido eu, para a realização de suas fotomanipulações. Algumas assustam caso o observador inocente as veja.Que fato singular! Pacereu-me uma pintura de Bosch!
07 junho 2005
REDITUS SUM! PARTE 2
Devido a problemas de ordem essencialmente técnica, a saber, o servidor de rede do prédio donde conecto sofreu uma drástica avaria e eu fiquei sem internet por alguns dias. Por enquanto, nosso analista de sistemas recorreu a uma medida caseira para sanar a incoveniência, mas, temo eu que a solução defintiva só venha a longo prazo. Resta a nós, os colaboradores, empenhar uma torcida para que essa medida caseira não falhe. Mas, por isso, não deixo de visitar-vos, amigos. Tenho ido aos domínios oceânicos de uma Concha portuguesa apreciar seu bom gosto por imagens por demais expressivas e policrômicas.
Um pensamento, a propósito, me vem ocupando a facha e a cachola: essa filha dos mares, conterrânea de Camões (que grande honra), em pessoa refulge tantas cores como as imagens que deita-nos à vista?
27 maio 2005
REDITUS SUM!!!!!
Recuperei-me de uma prostação de alguns dias! Febre, desconforto abdominal etc, fiquei deprimido a ponto de nem olhar pela janela do quarto a luz do sol. Mas eis-me aqui, são e incólume, graças a meu bom e misericordioso Deus!
09 maio 2005
A PRIMEIRA PAIXÃO
Pela manhã, ao acordar, vieram-me ao pensamento lembranças antigas. Busquei alguma citação melancólica na memória, para avivar-me tais reminiscências e achei Cecília Meireles, a reverenciada, a doce, a bela e suave poetisa brasileira, que tanto cativou outro poeta, Vinícius de Moraes. De encontrão, um belo poema de Cecília passou-me pela alma, deixando-a a recender a flor.
Fez tanto luar que eu pensei nos teus olhos antigos
E nas tuas antigas palavras;
O vento trouxe de longe tantos lugares em que estivemos
Que tornei a viver contigo enquanto o vento passava.
Dei-me com a recordação de uma moça, que há muito me alumbrou. Encetava eu a carreira do estudo do primeiro grau maior. Era franzino, tão franzino que o virem-me a mim era suficiente motivo de considerarem-me doente. Trespassava-me também uma timidez tonante e furiosa que me fizera, por anos, reter uma paixão à distância. Era um tremendo himeneu com a desventura de ser solitário. Olhos fundos e violáceos e lábios róseos que até hoje conservo. Cabelos negros a cair-me sobre a fronte, mas que hoje cedem lugar, aos poucos, a uma calva impiedosa, que avança sem aviso.
Foi numa noite de não sei quantos de uma época que hoje me é um paraíso perdido. Um céu que se desfez, tornou-se incerto como um sonho. Aquela jovem, ao trilhar a rua ante meus olhos surpresos, deitou-me um olhar tão penetrante que a minha infância-adolescência se mudou perturbadoramente, as auroras e os crepúsculos a partir dali não foram mais o mesmos. Era um amor cortês, uma flor trovadoresca a vicejar no peito, pois eu sabia bem que era como um trovador e que aquela senhora era-me impossível por diversos motivos. Dava-me, porém, gozo indizível o vê-la, mesmo que por uma única vez, entre a multidão, "toda alta, sutil, dor majestosa". Naquele momento, sem o saber, experimentei, pela primeira vez, o que Baudelaire sentiu no século XIX: A Síndrome de Baudelaire.
O correr dos anos veio então, e a tenho esquecida, mas não por completo. Essa crônica é eco daquele sentimento que me convulsionou o espírito por anos. Não me recordo, contudo, daquela jovem com a ternura dos onze anos; impera-me no peito somente a alegria de ter vivido uma primícia amorosa, nada mais.
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