20 dezembro 2007

Os Pombos - Coelho Neto

Em prosseguimento às análises dos contos que nos tem sugerido nossa cara professora Gilda, decidi postar alguns comentários que fiz à pressa do conto de Coelho Neto, Os Pombos. Texto bastante envolvente que contém a marca característica do autor e que o fez indigesto para muitos modernistas.
"Os Pombos" trata do drama de um casal de lavradores Tibúrcio e Joana e de seu filho Luís que contrai grave enfermidade, ficando à morte. O pai do garoto é um diligente agricultor que cuida diletamente de um pombal, pois crê, segundo crença de regiões interioranas, que o movimento agitado dos pombos traz desgraça. O estado definhante da saúde do filho está intimamente ligado, segundo suas crendices, à condição dos pombos. Cada movimento das aves em debandada conduz o pensamento e as emoções de Tibúrcio.
Assim, à medida que as aves se vão embora, pressentindo a morte que deve vir perto, o lavrador vai ficando mais apreensivo e psicologicamente agitado. Após uma tentativa de ocupar-se na roça, enxada ao ombro e caminhada por uma longa verdura calma, movimentada pelo vento da tarde, Tibúrcio não consegue ater-se ao trabalho, o pensamento constante no filho e na esposa o acossa e acaba por levá-lo de volta a casa, já antevendo o pior:

De repente um pombo atravessou os ares, outro, outro, outro logo depois. Tibúrcio pôs-se de pé olhando - lá iam eles, lá iam! Asas estalaram - eram outros. Aqueles não tornariam mais! Fugiam espavoridos, sentindo a morte que devia vir perto.

No terreiro de sua cabana, fita o pombal deserto, alargando a vista em busca de algum sinal de retorno das aves. Ao lado da mulher, que o descobre lá contemplativo, ainda tenciona chamar uma rezadeira após notificação de Joana em reposta à sua curiosidade de que se haveria cura para isso, a fuga dos pombos. Alguns momentos e Joana torna a casa e de lá rompe um grito de desespero, era a tragédia anunciada. Tibúrcio entra no quarto de onde parte o estridor e vê o filho morto e mãe ao lado desfeita em pranto.
Fora, quando percebe o retorno dos pombos, desespera-se na sua revolta e derriba a machadadas o pombal, matando em seguida, entre as mãos convulsas, dois borrachos que recolhe do chão, indefesos e desfigurados.
O conto é perpassado pela agonia e apreensão do casal e centra-se no tema da superstição segundo a qual a migração dos pombos é prenúncio de morte. A espera dorida pelo retorno das aves é interrompida pela falecimento de Luís, em razão do qual Tibúrcio extravasa sua dor, quando destrói o pombal. Assim, a esperança de o filho curar-se fica-lhe condicionada à permanência dos pombos.

06 dezembro 2007

Um Poeta Lírico - do volume Prosas Bárbaras



Mais conhecido por seus romances, Eça de Queirós revela outros aspectos de sua prosa em duas outras modalidades literárias: a prosa jornalística e o conto. Neste último, ele permite-se emancipar-se dos rigores do romance realista, como no conto Um Poeta Lírico pertencente ao volume Prosas Bárbaras e que narra história de Korriscosso, um poeta grego entristecido devido à condição em que vive na Inglaterra.

O encontro entre ele e o narrador dá-se num hotel londrino, após uma viagem exaustiva pelo canal da Mancha, vindo do continente, feita por aquele. Costumava ser visto em pé junto a uma janela, solitário, com ar melancólico, olhar parado, embraçando um guardanapo no restaurante do hotel. As descrições longas do narrador sobre o moço são, por vezes, carregadas de metáforas originais que dão grande ênfase à apresentação ao leitor, sobretudo na caracterização da magreza, da aparência esguia e apática de Korriscosso.

Apesar do interesse inicial que o jovem lhe desperta, os cuidados da estadia e as necessidades de viagem tratam de fazer esmaecer a lembrança havida pelo poeta. Tal interesse renasce, entretanto, quando da volta do narrador a Londres e este depara um amigo de anos, Brancolletti, um gordo bonacheirão e de sorriso cativante, porém com vezos de pedófilo, pois é singularmente guloso de rapariguinhas de doze a catorze anos, de preferência louras e impudicas com a palavras.

Este amigo foi quem lhe contou sobre o poeta, pois, como veio a saber posteriormente, exigindo-lhe confidências que satisfizessem sua curiosidade, Brancolletti e o gajo eram amigos e tinham ambos viajado a Europa a trabalho. A revelação de que era grego, entretanto, a princípio o desanima, haja vista uma voga preconceituosa abonar o juízo generalizante de ser o grego um gatuno. Assim, por causa dessa malhada reputação de malandro e verificado o fato de que um livro do autor havia desaparecido do quarto, aquiesceu rapidamente este com a moda difamatória e o considerando-o um bandido.

Nessa noite, por causa do grande movimento no hotel e também devido ao feitio complexo de sua instalação, o narrador perde-se e erra pelos caminhos feitos de corredores, escadas e salas os mais variados. Finalmente, depara um quarto onde acha o poeta debruçado sobre um mesa coberta de papéis, um colarinho e rosário e, entre eles, seu livro que fora espoliado do quarto.

Procedendo com esmerada misericórdia, o autor observa marcas que denunciam o gosto poético do jovem e, da conversa entretida, surge uma simpática atmosfera de confraternização entre eles, ambos poetas e, portanto, irmanados. Daí em diante, Korriscosso conta-lhe sua história entremeada de lacunas: formado em leis e compondo suas primeiras elegias num semanário lírico, aparecem-lhe ocasiões para realizar-se na vida política. Viajou muito, enamorou-se e, num momento em que fora indicado para trabalhar numa alta administração, é rejeitado e refugia-se na Inglaterra.

Nesse país, padece a solidão e o prosaísmo vilão do capitalismo que lhe tira tempo para o trabalho com o espírito. Vive, assim, dias atribulados, quando tem que conviver com a glutonaria e a folgança burguesa no restaurante. Trabalhar derrogatoriamente para atender à baixa necessidade material das elites, enquanto essas se refestelam no seu leito de ninharias, é uma indignidade que sua alma tocada pela sutileza artística, pelo instinto do som, da rima, pelo efeito do drama, não pode suportar.

Em contos como esse, Eça, em vez de caracterizar sociologicamente suas personagens, o faz apenas psicologicamente, ensejando a discussão sobre a problemática das vicissitudes humanas. No caso de Korriscosso, sobre a oposição demérita entre arte e materialismo capitalista, quando este, na sua tendência voraz ao amealhamento, ignora e dessacraliza a arte.

05 dezembro 2007

RENOUATIO

Este blogue foi, desde sua gênese, repositório de toda sorte de impressão que me vinha vindo: às vezes, agia como um típico romântico e meu humor oscilava à sucessão dos fatos. Aqui e ali deixava uma nota de melancolia ou de contentamento à medida que meu espírito sentia os movimentos da vida. Refletia sobre todas as impressões, todas as nuanças e significados que tinham os fatos e as coisas.

Agora, implemento renovação. Dedico-o ao que me tem feito ver sentido na vida: arte e a literatura, as divagações e investigações filosóficas sobre o homem e a existência, porque estamos cá na terra e é nela que sonhamos, sofremos, esperamos, amamos. Mas e o transcendente? Sim, está lá naquela dimensão etérea. Não é alheio a nós, mas nós também não devemos ser alheios à terra.

Muito embora esbarremos na angústia heideggereana e na náusea de Sartre pela impossibilidade de infinito, vivemos aqui o que nos define, o que bem significa o ser no mundo. Nada de fatalismo, apenas existencialismo crítico.

05 julho 2006

SUPREMA VERGONHA


O Brasil sucumbiu aos próprios erros, uma vergonha intolerável diante de uma nação estarrecida em ver um time inoperante. Brasil e França eram dous bêbados em frankfurt, mas o que estava um poucochinho mais sóbrio lançou o outro na sarjeta da humilhação. O que vimnos foi um espetáculo desprezível de egos inflados e um treinador dominado por "donos da equipe"! Suprema vergonha!

28 junho 2006

SOBRE CUMPLEAÑOS

Normalmente não sou afeito a comemorações de aniversário, acho festas como tais bastantes imaturas, perdoem-me. Mas não abro mão de ser felicitado, de receber um abraço, de ouvir cortesias dos amigos, pois lhes faço isso sempre, sempre solícito em demonstrar minha cordialidade e meu amor pelos amigos. Quanto a presentes, agrada-me que sejam simbólicos, não faço exigências, contanto que me sejam dados terna e sinceramente.
Um presente, contudo, que me quadraria muito e esse exijo, não obstante jamais logrei vê-lo, seria gozar da presença de amigos de uma forma íntima, constante e fiel. Meu aniverásrio é dia 1° de novembro, estou a esperar...

23 maio 2006

A literatura, como toda arte, é bilateral; necessita de um emissor e de um receptor para realizar-se. Este blogue só possui o emissor...

11 maio 2006

sabendo a resposta, ainda assim pergunto: Há leitores na internet?
É uma questão crucial. Um filósofo e politólogo italiano, Giovanni Sartori, produziu um interressante opúsculo, em 1991, sobre a função nefasta
da televisão sobre o homem, tirando-o a capacidade de abstração. Em certo sentido, é possível trensferir essa deturpação para a internet, que, devo admitir, não é de toda má.
Para Sartori, cuja obra chama-se "Homo Videns: Televisão e Pós-Pensamento", a televião estaria simplesmente mundando a natureza do ser humano, que deixa de ser homo sapiens (homem que sabe) para torna-se homo videns (homem que vê) inaugurando a era do pós-pensamento. Incapaz de elaborar um pensamento abstrato, o homem se torna um idiota guiado por símbolos e imagens.
Analisando o comportamento de internautas viciados pela rede adentro, é possível perceber essa tendência de condicionar o indivíduo à indústria da incultura e da imbecilidade. Viciados em Orkut e em outras comunidades, em sites de bate-papo sem finalidade útil, em jogos eletrônicos via computador, entre outros, têm se mostrado condicionados a um comportamento limitado e incapaz de ascender ao mundo inteligível, sendo, por isso, seu único guia a pobre simbologia que influncia seus olhos. É lastimável que mães e pais permitam que seus filhos despendam horas diante do computador escravizados por jogos eletrônicos e conversas inúteis, que as casas de intenet (lan house) estejam atulhadas de bufarinhieros de ninharia unicamente para adicionar e conhecer "aquela pessoa interessamteno no Orkut". Saliento como necessário afirmar que não condeno o uso do Orkut, mas apenas a dependência patológica dessa comunidade a que muitos estão sujeitos.
Como havia dito, a internet não é toda má, mas a sua ilimitação quanto aos usos conduz o homem ao meso fim dos que se submetem à ditadura imbecilizante da televisão. A multiplicidade e a complexidade de sons e imagens que a internet oferece têm minado a capacidade de pensar de alguns. Parece que, como a televisão, ela criou e continua a criar "um homem que não lê, que revela um alarmante entorpecimento mental, um molóide alimentado pelo vídeo (ou monitor), um potencial apedeuta viciado na vida dos jogos eletrônicos!"

05 maio 2006

O fim de semana se acerca e meu tédio também, pois esse é o fato: eu odeio dias assim, feriados e fins de semana. Sou anormal? Evidente que não! Sou apenas uma pessoa que teve o infortúnio de, ainda criança à mercê das graças da mãe, ser deslocado da capital, onde nasci, para uma cidade intolerável, alvo constante de minhas queixas.
Sabei-lo: nos feriados e dias afins, pratica-se absolutamente nada na "briosa" cidade em que finquei residência. Nada no sentido imediatamente produtivo. As ruas com seus bares malditos abertos e repletos de bêbados sorrindo suas indignidades, moçoilas desocupadas a dar olhadelas pseudo-avaliativas aos gajos que lhe passam pelas vistas de putanas. Crianças odiosas correndo pelas ruas mais estreitas, atulhando o caminho com seus brinquedos toscos e ridículos e causando vozerio constituído de gritinhos irritantes; na rua onde morava, antes de casar-me, a cozinha do inferno, é freqüente um ajuntamento de marmanjos inúteis, verdadeiros vermes sociais, a ouvir os tipos de música mais exasperantes possíveis, considerem que falo dos amaldiçoados forró, pagode, samba e o enojante brega. Meu Deus, esses estilos devem ter sido concebidos quando algum demônio, numa crise diarréica, evacuou toda sua impureza na terra e os tolos sem critérios abriram suas bocas a receber tudo gorja adentro.
Perdoem-me a revolta, por favor! É possível que minha cólera esteja a fuzilar alguém, que me lê, que nutre simpatia pelas classes musicais acima citadas. Mas não me condenem, pois tenho que padecer isso nos dias a que chamam feriados e fins de semana. O lugar não permite opção. A capital permitiria? Não é o melhor dos lugares, mas lhe dou o benefício da vantagem sobre Satuba pelo simples fato de lá haver bibliotecas, lojas de alfarrábios, museus, teatros, chás literários com os que posso chamar de amigos e pessoas no mínimo não provincianas que não se atenham às aparências para processar um julgamento definitivo sobre alguém. "Em todo lugar há pessoas assim!", dizeis-me, caros leitores, mas eu vos replico: "Ao que parece, a atmosfera suburbana possui algum poder condicionante sobre os hábitos de certas pessoas, que as inclina para uma forma deliberada de vício!"
Mas o fim de semana está aí, paciência!

25 abril 2006

Voluptas Intelectus - Isso mesmo, prazer do Intelecto

A Faculdade de Letras é melhor do que eu supunha, refiro-me ao curso não à infra-estrutura, que deixa muito a desejar. As aulas de Lingüística I, por exemplo, são uma cativante viagem às ideias revolucionárias de Ferdinand Saussurre. Leitura obrigatória para todo o curso, sobretudo agora no primeiro período: Curso de Lingüística Geral, de Saussurre e Introdução à Lingüística, de Fiorin.

18 abril 2006

DIES INITIALIS

Ontem foi o primeiro dia do ano letivo na UFAL - Universidade Federal de Alagoas, para os de fora que me visitam - e não me impressionei com as ocorrências que lá houve, simplesmente por que não houve ocorrência alguma! Que lástima! Primeiro dia de aula e os professores se quitam de aparecer. NO meu bloco, o de Letras, apenas uma faixa em quatro línguas lembravam aos novatos que aquilo era uma faculdade tal o pasmatório em que se tornou o lugar com a ausência de professores. Uma estudante sôfrega do teceira ano veio-nos dar as boas-vindas. Parecia, a princípio, um pouco atabalhoada, mas depois se refez tranquilamente.
Não superestimei a organização e a infra-estrutura da UFAL, pois certamente me despi das ilusões de colegial recém-formado há anos acerca do que podia encotrar na nossa briosa Universidade Pública Alagoana, mas esperava, ao menos, um palpável respeito com os alunos, sobretudo com que os chegam com intuito de senhorear-se do conhecimento lá ministrado. Mas, como dizia Machado de Assis, "vá lá", esperemos o correr dos dias nas salas e corredores da UFAL.

13 abril 2006

Vou-me seguindo aqui, malgrado o abandono dos que honro! Pois lamento esta solidão maldita a que me condenou a vida no âmbito social. Não fosse eu um homem casado, optaria sem hesitação pelo monastério e levaria minha existência nos redutos longínquos do isolamento!

07 abril 2006

Parece-me que, às vezes, minha vida não é muito distinta da do poeta apresentado no conto da postagem anterio;
Por mais das vezes, sinto-me como um maldito degredado deste mundo, condenado a lamentar minha orfandade social...sem amigos próximos! Queres saber mais, visitante, lê o drama "Macário", de Álavares de Azevedo, e terás uma visão aproximada de como me sinto!

04 abril 2006

Numa estalagem em Espanha, nas terras asturianas, nua calle em Carreño, quando o sol já declinava, entre alguns goles de vinho ordinário, passou-se o seguinte fato relatado aos ouvidos incrédulos dos que me chegaram como testemunhas apenas de um conto insólito. Por economia de espaço e tempo, urge que se omitam alguns passados nesta narrativa e que lhe dão mais veracidade. O caráter literariamente ficcional não deve, por assim dizer, destituir-lhe dessa veracidade.

Poeta

Mujer, por que tardas, desgraciada? Mi almuerzo es una masa apestada! Pon acá una taza de curaçau! No tienes curaçau? Que maldita tienda de los infiernos es esa? Ve, desgraciada!
(Falando consigo) Só me resta embriagar-me, minha fome, pelas tetas da taverneira, foi vencida pelo tédio. O curaçau me serviria a contento, mas não há, maldição.
Trae um buen viño de Espanha o un ordinario qualquiera!

Taverneira

Señor, solamente hay El Carretero de Granada, traído por Claudius, el cocinero! Pero cena, le daré los regalos de nuestra tierra.

Poeta (sorvendo o vinho)

É tal como um bálsamo para a goela sedenta, não importa se reles ou de uma safra afortunada! Nada melhor para passar o dia que o sono da embriaguez – volúpia consumidora como o ósculo duma virgem em cujos lábios pesa o desejo do gozo.

Tarveneira
(
À frente, um bando de sibaritas intrujões dá vivas à embriaguez)

Todos ellos ven acá y no hesitan en dar-me piropos vulgares para una noche de crápula! Borrachos!

Poeta

Deveras! Um bandalho ou um príncipe querer-te-ia à sorrelfa, filha de sátrapas. Minha imaginação entrega-se à fantasia ao ver-te os seios bastos redundando-se à blusa.

Taverneira

Galante, señor!

Poeta

Y maldito también!

(A taverneira sai, chega um homem)

Boas noites, tovarisch!



Poeta

Boas, weñas! De onde sais?

O Homem

Da América, volto de ajudar um grande empresário, que me ofereceu algo precioso em troca de poder infindável! Percebi que bebes como um padre, soluças como um cônego libertino.

Poeta

Que vá! Pois me conheces! Podes ser meu pai, já que minha mãe foi a Messalina de das ruas!

O Homem

Vim ao teu encontro não por acaso! Tenho algo contigo, sim! Estavas na sacristia do padre Toledo confessando teus pecados?

Poeta

Não! Foi uma infâmia! A irmã Encarnación, ex-meretriz de Carreño, não resistiu ao fogo que a espicaçava e o ver-me ajoelhado e lacrimoso pesou-lhe nos brios, pois eu chorava a partida de Juanita Sosa. Com as próprias mãos rompeu as amarras de morte do hábito e desnudou seu negro vale na câmara confessional. Cevei em perdição aquela freira libertina! E tu? Não bebes?

O Homem

Não, obrigado, prefiro o cachimbo que pende de teu pescoço.

Poeta

Está com o sarro da última tragada, em Madri, na casa de Pondal de Arales! Houve lá uma piteira dos infernos!

O Homem

E aquela freira, ainda queres vê-la?




Poeta


Pelo inferno que não! Foi uma cevada maldita! Do que senti não arrependo-me, mas vou esquece-la! Naquele aperto dos sexos, naquela agonia de luxúria, ouvi um gemido pleno de insânia, na desesperação de gozo febril! Parecia-me que tinha deflorado minha irmã! Talvez seja efeito da embriaguez!



O Homem

Acha que feriste a honra de Roma, violando uma de suas filhas?

Poeta

Roma não tem honra nem no berçário dos orfanatos! Se queres ver um jovem perdido, faça dele um sacerdote!

O Homem

Que sofreguidão! Que tens, pálido moço, por que te embuças no capote?

Poeta

É uma lembrança cruenta que parece me perpassar as carnes! É um anátema cruel da vida! Amei, sonhei ao caminhar a torrente negra da existência; desejei noites de ternura, um leito gracioso, crianças sorridentes ao meu redor de mim e de...

O Homem

Quem?

Poeta

Ninguém! Apenas um anjo perdido que me regelou a alma!

O Homem

Uma lembrança que te faz empalidecer! Uma mulher! Todas são assim! É a piada da vida – o amor! As mulheres são como o mar – belas, cativantes e misteriosas, mas vai às suas profundezas e sofrerás hórridos perigos! Não te iludas por uns seios cheios de languidez, suspiros de amor, coxas que espasmam um desejo de prazer.

Poeta

Ainda não me disseste teu nome!

O Homem

Tancredo Quinto, meu Werther agonizante!

Poeta

Pois...és filho de Tancredo de Ispona, o rufião?


Tancredo, rindo-se

Não, asseguro que não. Mas vem, quero levar-te a um lugar.

Poeta

Aonde?

Tancredo

À taverna de Santiago, o cínico.

Poeta

Pois sei que é. Que tipo interessante! Quando saímos?

Tancredo

Agora, se quiseres.

Poeta

Andemos! Que queres me mostrar lá?

Tancredo

Quero dar-te um presente! Uma noite com a mulher de teus sonhos! Chama-se Lucrecia, a mais gloriosa marafona de Espanha, tem todos os homens a seu pés.

Poeta

És louco? Sou um poeta, não tenho dinheiro para pagar a uma puta enriquecida e bem demandada!




Tancredo

Não precisarás de dinheiro! Ela é pródiga e amorável com poetas e minha amiga, não te preocupes!

Na taverna, ambos sentados. Tancredo fala.

Vês? A lua trespassa a janela como um lança e bate em cheio nas taças! É tua noite! Saberás o que é uma mulher e esquecerás o que é o amor!


Poeta

Que maçada! Por que a demora?

Tancredo

Acalma-te! Ela está a arranjar-se com duque Bórnai! Aí vem ela, perfeita como a noite! Vai ao seu encontro, tudo está certo, já sabe quem és! Basta dizer-lhe ao ouvido: Agora e para sempre, na vida e na morte! Vai, mancebo!


A madrugada se impõe. Os vapores cinzentos cobrem o telhado das casas ao redor, o luar é melancólico como um saimento de enterro, trêmulo como as águas turvas do Letes. Uma cerração envolve aquele espaço da rua e a soledade da noite é horrenda e nímia; o rugir de um vento frio de inverno percorre as sendas e a geada imperturbável da noite permeia as fisgas das portas. Nos rincões da cidade, nas fímbrias dos rochedos em volta algo semelhante ao filho da perdição serpeia por entre as rochas; parecia o espectro da morte que trazia consigo a desolação das agonias íntimas. O ar tedioso da tarde cedeu ao vento gélido e penetrante. A noite vinha alta. Há uma saturnal na taverna. Moços ébrios celebram o amor impuro, perdidos como Satã no seu leito de infâmia. Revolvem convulsos entre os vapores do vinho e o trescalar lúbrico dos seios descorados de mulheres devassas. Na alcova ao fundo, está o poeta diante de sua favorecente ouvindo a sinfonia medonha de gemidos de orgasmos das vadias. É um chamado à sepultura. Mas ele vai atender-lhe, que mais lhe importa.
Deitada a recebê-lo, na alcova penumbrosa, as faces pálidas sob a crispação das sombras do quarto. A excessiva juventude da amante o assombrou, pois ele não a percebeu na sala, fora, estando ela sob um capuz. A senhora absoluta do desejo dos homens é uma jovem alguns anos mais moça. Mas a perturbação passou. A lividez da pele que era revelada pelo luar era o que o perturbava agora. Que desvario ver suas formas nuas de neve. Deitou-se sobre ela. Houve um espasmo molhado. Um pedaço de chumbo, parecia, forçava uma fenda de seda, estreita e frágil. Dois ais de dor ressoaram da moçoila. “Fingimento cínico!”, pensou ele e continuou o frenesi impetuoso enquanto seus lábios sorviam o néctar dos seios alvacentos. A língua foi pescoço, desceu ao baixo colo e percorreu-o . “O sinal!” Esse pensamento passou-lhe como uma blasfêmia pela mente escaldada de vinho. “O sinal!” Novamente. A cupidez de cevar aquelas formas não podia mais ser detida, mas seu espírito já tresloucava! Tinha visto o sinal! “Meus Deus! A marca de nascença que nos une! O sinal que vi, quando nascia, na filha das entranhas da minha mãe!” A esta frase, seu galope infrene já não era de prazer. O báculo sangrava, as veias rompiam-se, mas em tempo de lançar ao ventre da jovem desvairada pelo que ouvia seiva monstruosa daquele êxtase torpe. O gemido foi de gozo e de desespero, os amantes estertoravam num torvelinho terrificante. Eles se puseram de joelhos sobre a cama:


A Jovem

Que te passa?



Poeta

Não percebes? Tens o sinal que eu carrego! Tu és minha irmã! Não vês que eu sou um maldito? Um maldito!































16 fevereiro 2006

Advertência Necessária!!!

Cura ut postarei em breve, para retomar esse blogue...Meterei aqui as idéias que me vierem vindo! Um abraço a Pimentinha, Patrícia de Santa Catarina e a Bi! Aguardai-me!!!

14 fevereiro 2006

Arrangement


Há novas e novas para comentar. Por onde devo principiar? Este mês, que está-se a passar, rendeu-me, ao lado das habituais razões para me tornar um deprimido, algumas emoções indeléveis e que seguramente marcarão o ano.

Devo também dizer que algo me enfastia absurdamente: certa imutabilidade de coisas que me parece tão patológica. A minha vida se arranja comodamente de um lado, mas de outro continua esfaimada de algo novo, algo que parece não querer vir. Sinto-me abandonado pelos que poderia chamar amigos – amigos, se é que algum dia logrei sua presença em minha vida de forma contínua e substancial. Não cometerei o dolo de dizer que não os tenho. Em certo sentido, qualquer um tem, mas não é bastante o somente tê-los. Urge que haja integração, cumplicidade em acertos, em erros, em sensatezes e insensatezes, que um seja a sombra do outro, o vulto do outro, por vezes, a consciência do outro, a voz que defende, que grita, que clama...o braço que abraça, envolve, assegura, acaricia...tudo isso e outras virtudes e desvirtudes é um amigo!

Passemos a outro assunto: em março, farei a matrícula institucional na Faculdade de Letras Luso-Brasileiras da UFAL e, em abril, encetarei a carreira universitária. Neste aspecto, minha vida está exultante. Vislumbro um futuro glorioso – Avante! – Brada-me o talento n’alma e um eco ao longe me repete – Avante! Minha condição familiar-matrimonial também me é lucrativa, já estou a três meses desde que iniciei o meu enlace e felicíssimo!

Há um respingo, no entanto, que tenho que deixar fluir: já não tenho mais vida para blogue, estoy hinchado, parece que o meu não alcançou seu fim – a interpenetração plena nas diversas personalidades que pudesse atingir! Vou voltar à velha tinta e papel, como sempre foi – escrever somente para mim. Um dia alguém deparará meus escritos e os dará a lume, juntamente com os de outros poetas! Acho que este blogue acaba aqui! Requiescat in pace!!!

Não me questionem, res ipsa loquitur!

09 fevereiro 2006

Eles Comem Cavalos, Não Comem?

Tolerância religiosa, liberdade de expressão! Frases que adquiriram um viso de maior importância nesses últimos dias. Os jornais do mundo noticiaram a indignação dos muçulmanos frente à publicação de imagens cômicas do profeta Maomé pelos dinamarqueses. Classificar-se-ia como compreensível aquele festim de cólera irracional se a mesma não extrapolasse o âmbito verbal e não rebentasse numa demonstração de bestialidade como a que temos visto.

Não contive, em meu âmago, a revolta em ver aquela chusma cega e ignorante num refestelo de barbárie, depredando prédios que não foram construídos com seu dinheiro, ameaçando e manietando funcionários como se estivessem se batendo contra os cruzados medievais. Infelizmente, a definição de bárbaros ou vândalos lhes é insuficiente. Há meios mais humanos, mais racionais de exprimir-se a fé ferida e insultada, meios que naturalmente aquela turba fundamentalista que se lança à volúpia da destruição não conhece. E por quê? São cães danados? Uma soldadesca desordeira que se julga religiosa?

Na verdade, a resposta a essas perguntas revela um estado decorrente das condições históricas em que o fervor religioso desse povo se desenvolveu: uma forma de religião malsã, irracional, sem envolvimento com um deus pessoal. Graças a Deus que foram detidos no seu avanço pela Europa, malgrado aqueles que os barraram, os cruzados católicos, fossem outra horda hedionda!

Como cristão, não me sentiria confortável em ver a figura de Cristo futilizada, mas, como membro de uma civilização, de forma alguma apoiaria a selvageria desenfreada que aquele bando de patifes sem controle estão a demonstrar.

01 fevereiro 2006

NOVA DIRECTIO

Vós que me visitais, sabei já:

Implementei uma alteração. Na verdade, uma criação: há muito tentava criar uma conta de fotologue Ubbi, mas o maldito sítio mo impedia com a advertência de que o número de cadastros por dia havia excedido o limite, e eu tentei por semanas. Capitulei ante a resistência odiosa do provedor Ubbi. Como modo de resignar-me, fui ao Gigafoto e lá me cadastrei, mas não me agradou, pois há algumas limitações que o Ubbi não tem, à exceção do famigerado limite cadastral por dia.
Hoje, resolvi retomar a peleja e triunfei: está feito meu cadastro, já tenho fotologue Ubbi. Vós, amigos, podeis visitar-me neste endereço agora: http://ubbibr.fotolog.com/poete777/
O fotologue anterior, o Avona, vou relegá-lo por uns tempos. No futuro, retomá-lo-ei.

27 janeiro 2006

Convenci-me, à custa de dolorosas decepções com o ser humano, a nada esperar de nobre e grandioso do mesmo. Disso é inevitável sentir-me como um ser insular, que evita o contato humano para não respirar de sua natureza acanalhada e miserável, eivada à farta de vícios indizíveis.
Para culminar num abismo maior, essas decepções assumem vultos cada vez mais atrozes e meu ódio também. Aqui no meu setor, tenho sofrido a perseguição inquisitorial de um grande imbecil que se acredita poderoso e intangível unicamente devido à sua posição na empresa: chefe da coordenação de informática. Os brios que o calhorda acreditar ter subiram-lhe à cabeça e lhe meteram empáfia na alma vagabunda a ponto de querer impor um governo ditatorial àqueles que ele acha no dever de submeter-se tacitamente.
Minha paciência tem dado mostras de saturação e vou adorar o momento em que puder vê-lo humilhado e atordoado como conseqüência de seus excessos hitleristas.

05 janeiro 2006

DEFESA!!!

Fui vítima de uma conspiração difamatória, desculpem a ausência; estou me curando dos efeitos e me controlando para não escalpelar alguém!

27 dezembro 2005

O Natal passou por mim inerte...sequer o gozei!