10 fevereiro 2005

PUFF!!

"Mas o desgosto deve ser o instrutor dos sábios; / Mágoa é conhecimento" (Byron)

Devido ao entrudo, amarguei quatro dias de ausência. Não somente isso, forcei-me a uma tolerância absurda, que me puiu a paciência diante das turbas miseráveis que gozavam seu folguedo amaldiçoado. Pilhéria, vilania e velhacaria inundavam as ruas daquela vila (prefiro chamá-la assim) que efervescia em seus vícios.
Tranquei-me em casa para não aspirar a atmosfera infecta daquele reboliço grotesco, mas, de algum a modo, também isso me fez algum mal. Estou aqui com as junturas doloridas, uma tenaz dor de cabeça, embora ligeira, e um embaraço na garganta – uma gripe se prenuncia, talvez, mas vou afastá-la.
Numa última hora, já no primeiro dia do infame carnaval, desisti de retirar-me com alguns amigos que se iam a Ipioca, por razões que sempre hão de nos surpreender tal a sua cruel e ferrenha natureza irônica. Assim, deparei nas ruas, pela janela do quarto dos meus pais e por algumas ousadas saídas a visitar amigos ensebados pela indolência, um espetáculo patético de degradação e auto aviltamento: os famigerados blocos, no seu desfile odioso, sorrindo sua alegria mesquinha, seus trajes de dúbio gosto, crianças enfurnadas em fantasias ridículas, encafifando as que verdadeiramente são, anunciando à idade madura a toleria que esta deveria aguardar e demonstrando o débil caráter educacional que os pais envergam.
Meti-me no quarto a estudar latim e a ler os brocardos romanos reunidos por um professor de Direito, pois durante o entrudo mala tempora currunt e é recomendável não sair de casa.

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