03 fevereiro 2005

ALTIOR


“Por nossas confissões, muito é o que a alma reclama,
voltando com prazer a um caminho da lama,
crendo as manchas lavar com pranto amaldiçoado...”
Baudelaire

“No ceticismo do Candide voltaireano, depois do ultimo soluço há o abafamento bochorral do nada, a treva do não-ser”. Álvares de Azevedo

Quando Wilson Kituti, Júnior Gótico e eu nos reunimos há pouco mais de três meses, lá mesmo, na ampla calçada da rua Dr. Pontes de Miranda, atulhada por bancas de alfarrábios em enfiada, sob o rumor constante e, às vezes, odioso do trânsito, à vista de tantos transeuntes, veio à lume um projeto que germinava há meses. Nada tinha que ver, naturalmente, com mecanismos eletrônicos de divulgação, haja vista ao caráter infenso de nosso amigo Wilson aos institutos da modernidade que agilizam a vida, facilitam-na, mas concomitantemente a afastam da pureza artesanal de uma época já perdida no tempo, vítima da coima indigna dessa barafunda catatonizante chamada modernidade social.
Assim, nasceu, não exatamente desse encontro, mas por intermédio desse encontro, a “Sociedade Poe”, projeto germinal, como havia dito, de uma obra maior para nós. Ela se funda essencialmente na mentalidade difundida pelos “poetas malditos”, sobretudo os que traduziam o espírito decadentista de fim de século, tendo em Poe e Baudelaire nossos ícones literários maiores.
Esta seção se presta a ser, entre outros fins, um instrumentum de divulgatione da idéias que excogitaremos em nosso “cenáculo”. A Sociedade Poe foi o patamar principial de nossas aspirações medievais. Foi a partir dela que nos conduzimos à infusão total no mundo arrebatador e épico dos Templários a partir da “REGRA” dos quais elaboramos nosso código comunal, que rege nosso proceder dentro e fora do cenáculo, embora não se aplique, necessariamente, a todos os membros. Muito a propósito, cito aqui alguns excertos tirados à compilação da “REGRA” que, originalmente, constituía-se de setenta e dois artigos, acrescidos de mais quatro na tradução francesa elaborada essencialmente por São Bernardo, o patrono dos Templários e também organizador da Ordem Cisterciense.
No artigo 2º, São Bernardo definiu a natureza essencial do cavaleiro ao acoimar o estado decadente em que se encontrava a cavalaria, por terem os cavaleiros abusado de suas verdadeiras atribuições, passando a praticar horrendo dolo contra a fé e os princípios que deveriam empunhar e defender:
“Eles desprezavam o amor à justiça que era pertinente a seu papel, e não faziam o que deveriam. Em vez de defender os pobres, as viúvas, os órfãos e a Igreja, competiam para estuprar e matar.”

A seguir, vê-se que todo o restante da Regra seguia a norma explicitada no prólogo e pretendia restaurar o ideal de Cavalaria:

“(...) Se algum cavaleiro secular, ou qualquer que seja, deseje abandonar a massa de perdição e essa vida secular e pretenda escolher nossa visa comunal, não consintais em recebe-lo imediatamente, pois assim disse meu senhor São Paulo: ‘Probate spiritus si ex Deo sunt’”.

Nós nos esteamos, sobretudo, na força dessa citação probate spiritus si ex Deo sunt, ou seja, “verificai antes se a alma procede de Deus”, para estabelecermos o paradigma daquele que é aceitável para freqüentar o nosso círculo, ressalvando-se que nos convém a seguinte forma: “probate spiritus si ex turba inconsulta non sunt”, da qual tiramos a seguinte advertência: “Nulla fronte fides”.

lúgubre Posted by Hello

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