09 março 2005

BEM-VINDOS AO REINO DA ESCURIDÃO

Por meus pecados, Deus me tem punido! Tem estilhaçado meus ossos, enfermado minha carne e ensandecido meu espírito.

A FONTE DE SANGUE

Muitas vezes parece jorrar o meu sangue
Como uma fonte - então me sinto vago, exangue;
Ouço-o como um murmúrio surdo em minha vida
Mas me atormento em vão, sem achar a ferida.
Pela cidade inteira a escorrer, vai formando
Sobre um campo fechado, ilhas de vez em quando,
E vai matando a sede a cada criatura
Pondo em tudo o que toca uma rubra moldura.
Tenho pedido sempre aos vinhos capitosos
Esquecer, por um dia, essa angustia tão rara,
- O bom vinho que à vista e que ao ouvido aclara.
E só no amor achei os sonos generosos,
Mas o amor para mim a um leito em brasas, feito
Para um sofrer cruel! E um inferno em meu peito!


O amor me tem ludibriado – pois amar é, às vezes, um passo ao inferno torvo – me tem expugnado, sojugado meu coração plangente.

LESBIA

Cróton selvagem, tinhorão lascivo,
Planta mortal, carnívora, sangrenta,
Da tua carne báquica rebenta
A vermelha explosão de um sangue vivo.

Nesse lábio mordente e convulsivo,
Ri, ri risadas de expressão violenta
O Amor, trágico e triste, e passa, lenta
A morte, o espasmo gélido, aflitivo...

Lésbia nervosa, fascinante e doente,
Cruel e demoníaca serpente
Das flamejantes atrações do gozo.

Dos teus seios acídulos, amargos,
Fluem capros aromas e os letargos,
Os ópios de um luar tuberculoso.

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