29 março 2005
23 março 2005
Eu amo os gregos tipos de escultura:
Pagãs nuas no mármore entalhadas;
Não essas produções que a estufa escura
Das modas cria, tortas e enfezadas.
Quero um pleno esplendor, viço e frescura
Os corpos nus; as linhas onduladas
Livres: de carne exuberante e pura
Todas as saliências destacadas...
Não quero, a Vênus opulenta e bela
De luxuriantes formas, entrevê-la
De transparente túnica através:
Quero vê-la, sem pejo, sem receios,
Os braços nus, o dorso nu, os seios
Nus... toda nua, da cabeça aos pés!
Raimundo Correia, parnasiano
18 março 2005
DESENTRANHAMENTO
CERTAS PESSOAS HÁ QUE SÃO TÃO IMATURAS E ABESPINHANTES, TÃO MISERAVELMENTE DESPROVIDAS DE SENSIBILIDADE, TÃO TENDENTES A ORGULHAR-SE DE SEUS ATOS DESMERECENTES, A FAZER GLÓRIA DO BALDÃO QUE A SUA EXISTÊNCIA SE TORNA UM INSULTO. E, PARA DESGRAÇA MAIOR, ACHAM QUE PODEM LOGRAR SE POSICIONAR DE BONS-MOCISTAS! VÃO COM MIL SATANASES TODOS ELES, PRINCIPALMETE TU, PIRRALHA RIDÍCULA!
16 março 2005
E perto avisto porto
Imenso, nebuloso, e sempre noite,
Chamado Eternidade!
Como é tão belo o sol! Quantas grinaldas
Não tem de mais a aurora!!
Como requinta o brilho a luz dos astros!
Como são recendentes os aromas
Que se exalam das flores! Que harmonia
Não se desfruta no cantar das aves,
No bater do mar, e das cascatas,
No sussurrar dos límpidos ribeiros,
Na natureza inteira, quando os olhos
Do moribundo, quase extintos, bebem
Seus últimos encantos!
10 março 2005
09 março 2005
BEM-VINDOS AO REINO DA ESCURIDÃO
Por meus pecados, Deus me tem punido! Tem estilhaçado meus ossos, enfermado minha carne e ensandecido meu espírito.
A FONTE DE SANGUE
A FONTE DE SANGUE
Muitas vezes parece jorrar o meu sangue
Como uma fonte - então me sinto vago, exangue;
Ouço-o como um murmúrio surdo em minha vida
Mas me atormento em vão, sem achar a ferida.
Pela cidade inteira a escorrer, vai formando
Sobre um campo fechado, ilhas de vez em quando,
E vai matando a sede a cada criatura
Pondo em tudo o que toca uma rubra moldura.
Tenho pedido sempre aos vinhos capitosos
Esquecer, por um dia, essa angustia tão rara,
- O bom vinho que à vista e que ao ouvido aclara.
E só no amor achei os sonos generosos,
Mas o amor para mim a um leito em brasas, feito
Para um sofrer cruel! E um inferno em meu peito!
O amor me tem ludibriado – pois amar é, às vezes, um passo ao inferno torvo – me tem expugnado, sojugado meu coração plangente.
LESBIA
Cróton selvagem, tinhorão lascivo,
Planta mortal, carnívora, sangrenta,
Da tua carne báquica rebenta
A vermelha explosão de um sangue vivo.
Nesse lábio mordente e convulsivo,
Ri, ri risadas de expressão violenta
O Amor, trágico e triste, e passa, lenta
A morte, o espasmo gélido, aflitivo...
Lésbia nervosa, fascinante e doente,
Cruel e demoníaca serpente
Das flamejantes atrações do gozo.
Dos teus seios acídulos, amargos,
Fluem capros aromas e os letargos,
Os ópios de um luar tuberculoso.
04 março 2005
"O Jardim das Delícias Terrenas", de Jerônimo Bosch. Esse genial pintor sempre me impressionou por seus temas perturbadores: o demoníaco, o horrendo, tudo aquilo que convulsiona o sentimento religioso. Essa aí é apenas a zona central do painel, que representa a transição da humanidade do seu estado de graça e felicidade para a perdição no Inferno. Essa zona, que aí vedes, mostra o homem caído nos prazeres da carne. É magnífica essa obra. Além de Bosch, agrandam-me Fuseli e os Bruegel.
02 março 2005
RECRUDESCÊNCIA
Nos últimos dias tenho sentido uma aberradora depressão de espírito. Por que me veio isso? Desejai saber? Recrudescência, parece-me. Uma amiga "blogueira" confessou sua condição diante do TOC (o famigerado Transtorno Obsessivo Compulsivo) e eu, ao sabê-lo, meti-me a relembrar os meus dias patológicos, quando odiosamente me via agrilhoado pelo impulso mórbido de repetir palavras agradáveis e auto-lisonjeiras para reprimir "as vozes na minha cabeça" que me lançavam em rosto um desafio ingrato. Era um embate terrível!!!
Os sintomas se exprimiam claramente: agitação agônica, pensamento obsidioso em contradizer qualquer idéia de significação desmerecente que não me desse descanso, a ponto de exteriorizar a convulsão íntima em arroubos de indignação comigo mesmo.
Nesses volteios de minha memória, surpreendi-me fazendo-me interpelações refutativas, numa confrontação flagelante. Parece-me que o lembrar daqueles dias fez-me recrudescer o maldito TOC!
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