14 fevereiro 2008

Existir, Viver, Reinventar...



Viver é constantemente reinventar, muitas vezes, "realidades mentirosas"! Está na índole humana assim como a constituição de uma cadeia inorgânica de átomos está nos minerais. Civilização é mais que um termo, mais que uma mera condição de aprimoramento cultural que nos põe acima dos "selvagens", é uma marca de vinculação à vida, ao trabalho vital (não aquele feito pela humilhante necessidade de sustentar a existência material, mas o produtor e performador da vida), e ao que podemos chamar de essência genérica. É esse sentimento de vitalismo nietzscheano que me faz lamentar certos corolários do ascetismo antropológico-cultural de algumas correntes cristãs, tais quais "esta é vida é uma passagem", "o cristão não pertence ao mundo", "teatro é coisa do mundo" etc.

A malversação da palavra mundo e do seu objeto semântico tem redundado em afirmações irresponsáveis que conduzem muitos à alienação e inflam as igrejas de zumbis repetidores de fórmulas de ressentimento que negam a vida. Como cristão, pesa-me sobremodo testemunhar a aberradora realidade desse fato na existência estagnada e estereotipada de muitos que fazem da espada do espírito moto para sua conformação. Entretanto, a reinvenção que referi no princípio é precisamente positiva e abarca o valor semiótico-cultural da relação dialética do homem com os fatos da vida. Procurei em Fernando Pessoa algum pensamento desassossegado para comprovar isso e, entre outros, achei:


"Damos comumente às nossas idéias do desconhecido a cor das nossas noções do conhecido: se chamamos à morte um sono é porque parece um sono por fora; se chamamos à morte uma nova vida é porque parece uma coisa diferente da vida. Com pequenos mal-entendidos com a realidade construímos as crenças e as esperanças, e vivemos das côdeas a que chamamos bolos, como as crianças pobres que brincam a ser felizes. Mas assim é toda a vida; assim, pelo menos, é aquele sistema de vida particular a que no geral se chama civilização. A civilização consiste em dar a qualquer coisa um nome que lhe não compete, e depois sonhar sobre o resultado. E realmente o nome falso e o sonho verdadeiro criam uma nova realidade. O objeto torna-se realmente outro, porque o tornamos outro."

Um comentário:

Fláh disse...

"Com giro cada vez mais rápido, o fdalcão nã escuta o falcoeiro"

ali do lado, só pra avisar que ta erradinho. :)

Que texto, não tenho palavras suficiente pra expressar, porém apesar dos "nomes falsos" que damos a tudo, o sonho é bem real e é capaz de mudar qualquer realidade, de qualquer vida.