25 abril 2006

Voluptas Intelectus - Isso mesmo, prazer do Intelecto

A Faculdade de Letras é melhor do que eu supunha, refiro-me ao curso não à infra-estrutura, que deixa muito a desejar. As aulas de Lingüística I, por exemplo, são uma cativante viagem às ideias revolucionárias de Ferdinand Saussurre. Leitura obrigatória para todo o curso, sobretudo agora no primeiro período: Curso de Lingüística Geral, de Saussurre e Introdução à Lingüística, de Fiorin.

18 abril 2006

DIES INITIALIS

Ontem foi o primeiro dia do ano letivo na UFAL - Universidade Federal de Alagoas, para os de fora que me visitam - e não me impressionei com as ocorrências que lá houve, simplesmente por que não houve ocorrência alguma! Que lástima! Primeiro dia de aula e os professores se quitam de aparecer. NO meu bloco, o de Letras, apenas uma faixa em quatro línguas lembravam aos novatos que aquilo era uma faculdade tal o pasmatório em que se tornou o lugar com a ausência de professores. Uma estudante sôfrega do teceira ano veio-nos dar as boas-vindas. Parecia, a princípio, um pouco atabalhoada, mas depois se refez tranquilamente.
Não superestimei a organização e a infra-estrutura da UFAL, pois certamente me despi das ilusões de colegial recém-formado há anos acerca do que podia encotrar na nossa briosa Universidade Pública Alagoana, mas esperava, ao menos, um palpável respeito com os alunos, sobretudo com que os chegam com intuito de senhorear-se do conhecimento lá ministrado. Mas, como dizia Machado de Assis, "vá lá", esperemos o correr dos dias nas salas e corredores da UFAL.

13 abril 2006

Vou-me seguindo aqui, malgrado o abandono dos que honro! Pois lamento esta solidão maldita a que me condenou a vida no âmbito social. Não fosse eu um homem casado, optaria sem hesitação pelo monastério e levaria minha existência nos redutos longínquos do isolamento!

07 abril 2006

Parece-me que, às vezes, minha vida não é muito distinta da do poeta apresentado no conto da postagem anterio;
Por mais das vezes, sinto-me como um maldito degredado deste mundo, condenado a lamentar minha orfandade social...sem amigos próximos! Queres saber mais, visitante, lê o drama "Macário", de Álavares de Azevedo, e terás uma visão aproximada de como me sinto!

04 abril 2006

Numa estalagem em Espanha, nas terras asturianas, nua calle em Carreño, quando o sol já declinava, entre alguns goles de vinho ordinário, passou-se o seguinte fato relatado aos ouvidos incrédulos dos que me chegaram como testemunhas apenas de um conto insólito. Por economia de espaço e tempo, urge que se omitam alguns passados nesta narrativa e que lhe dão mais veracidade. O caráter literariamente ficcional não deve, por assim dizer, destituir-lhe dessa veracidade.

Poeta

Mujer, por que tardas, desgraciada? Mi almuerzo es una masa apestada! Pon acá una taza de curaçau! No tienes curaçau? Que maldita tienda de los infiernos es esa? Ve, desgraciada!
(Falando consigo) Só me resta embriagar-me, minha fome, pelas tetas da taverneira, foi vencida pelo tédio. O curaçau me serviria a contento, mas não há, maldição.
Trae um buen viño de Espanha o un ordinario qualquiera!

Taverneira

Señor, solamente hay El Carretero de Granada, traído por Claudius, el cocinero! Pero cena, le daré los regalos de nuestra tierra.

Poeta (sorvendo o vinho)

É tal como um bálsamo para a goela sedenta, não importa se reles ou de uma safra afortunada! Nada melhor para passar o dia que o sono da embriaguez – volúpia consumidora como o ósculo duma virgem em cujos lábios pesa o desejo do gozo.

Tarveneira
(
À frente, um bando de sibaritas intrujões dá vivas à embriaguez)

Todos ellos ven acá y no hesitan en dar-me piropos vulgares para una noche de crápula! Borrachos!

Poeta

Deveras! Um bandalho ou um príncipe querer-te-ia à sorrelfa, filha de sátrapas. Minha imaginação entrega-se à fantasia ao ver-te os seios bastos redundando-se à blusa.

Taverneira

Galante, señor!

Poeta

Y maldito también!

(A taverneira sai, chega um homem)

Boas noites, tovarisch!



Poeta

Boas, weñas! De onde sais?

O Homem

Da América, volto de ajudar um grande empresário, que me ofereceu algo precioso em troca de poder infindável! Percebi que bebes como um padre, soluças como um cônego libertino.

Poeta

Que vá! Pois me conheces! Podes ser meu pai, já que minha mãe foi a Messalina de das ruas!

O Homem

Vim ao teu encontro não por acaso! Tenho algo contigo, sim! Estavas na sacristia do padre Toledo confessando teus pecados?

Poeta

Não! Foi uma infâmia! A irmã Encarnación, ex-meretriz de Carreño, não resistiu ao fogo que a espicaçava e o ver-me ajoelhado e lacrimoso pesou-lhe nos brios, pois eu chorava a partida de Juanita Sosa. Com as próprias mãos rompeu as amarras de morte do hábito e desnudou seu negro vale na câmara confessional. Cevei em perdição aquela freira libertina! E tu? Não bebes?

O Homem

Não, obrigado, prefiro o cachimbo que pende de teu pescoço.

Poeta

Está com o sarro da última tragada, em Madri, na casa de Pondal de Arales! Houve lá uma piteira dos infernos!

O Homem

E aquela freira, ainda queres vê-la?




Poeta


Pelo inferno que não! Foi uma cevada maldita! Do que senti não arrependo-me, mas vou esquece-la! Naquele aperto dos sexos, naquela agonia de luxúria, ouvi um gemido pleno de insânia, na desesperação de gozo febril! Parecia-me que tinha deflorado minha irmã! Talvez seja efeito da embriaguez!



O Homem

Acha que feriste a honra de Roma, violando uma de suas filhas?

Poeta

Roma não tem honra nem no berçário dos orfanatos! Se queres ver um jovem perdido, faça dele um sacerdote!

O Homem

Que sofreguidão! Que tens, pálido moço, por que te embuças no capote?

Poeta

É uma lembrança cruenta que parece me perpassar as carnes! É um anátema cruel da vida! Amei, sonhei ao caminhar a torrente negra da existência; desejei noites de ternura, um leito gracioso, crianças sorridentes ao meu redor de mim e de...

O Homem

Quem?

Poeta

Ninguém! Apenas um anjo perdido que me regelou a alma!

O Homem

Uma lembrança que te faz empalidecer! Uma mulher! Todas são assim! É a piada da vida – o amor! As mulheres são como o mar – belas, cativantes e misteriosas, mas vai às suas profundezas e sofrerás hórridos perigos! Não te iludas por uns seios cheios de languidez, suspiros de amor, coxas que espasmam um desejo de prazer.

Poeta

Ainda não me disseste teu nome!

O Homem

Tancredo Quinto, meu Werther agonizante!

Poeta

Pois...és filho de Tancredo de Ispona, o rufião?


Tancredo, rindo-se

Não, asseguro que não. Mas vem, quero levar-te a um lugar.

Poeta

Aonde?

Tancredo

À taverna de Santiago, o cínico.

Poeta

Pois sei que é. Que tipo interessante! Quando saímos?

Tancredo

Agora, se quiseres.

Poeta

Andemos! Que queres me mostrar lá?

Tancredo

Quero dar-te um presente! Uma noite com a mulher de teus sonhos! Chama-se Lucrecia, a mais gloriosa marafona de Espanha, tem todos os homens a seu pés.

Poeta

És louco? Sou um poeta, não tenho dinheiro para pagar a uma puta enriquecida e bem demandada!




Tancredo

Não precisarás de dinheiro! Ela é pródiga e amorável com poetas e minha amiga, não te preocupes!

Na taverna, ambos sentados. Tancredo fala.

Vês? A lua trespassa a janela como um lança e bate em cheio nas taças! É tua noite! Saberás o que é uma mulher e esquecerás o que é o amor!


Poeta

Que maçada! Por que a demora?

Tancredo

Acalma-te! Ela está a arranjar-se com duque Bórnai! Aí vem ela, perfeita como a noite! Vai ao seu encontro, tudo está certo, já sabe quem és! Basta dizer-lhe ao ouvido: Agora e para sempre, na vida e na morte! Vai, mancebo!


A madrugada se impõe. Os vapores cinzentos cobrem o telhado das casas ao redor, o luar é melancólico como um saimento de enterro, trêmulo como as águas turvas do Letes. Uma cerração envolve aquele espaço da rua e a soledade da noite é horrenda e nímia; o rugir de um vento frio de inverno percorre as sendas e a geada imperturbável da noite permeia as fisgas das portas. Nos rincões da cidade, nas fímbrias dos rochedos em volta algo semelhante ao filho da perdição serpeia por entre as rochas; parecia o espectro da morte que trazia consigo a desolação das agonias íntimas. O ar tedioso da tarde cedeu ao vento gélido e penetrante. A noite vinha alta. Há uma saturnal na taverna. Moços ébrios celebram o amor impuro, perdidos como Satã no seu leito de infâmia. Revolvem convulsos entre os vapores do vinho e o trescalar lúbrico dos seios descorados de mulheres devassas. Na alcova ao fundo, está o poeta diante de sua favorecente ouvindo a sinfonia medonha de gemidos de orgasmos das vadias. É um chamado à sepultura. Mas ele vai atender-lhe, que mais lhe importa.
Deitada a recebê-lo, na alcova penumbrosa, as faces pálidas sob a crispação das sombras do quarto. A excessiva juventude da amante o assombrou, pois ele não a percebeu na sala, fora, estando ela sob um capuz. A senhora absoluta do desejo dos homens é uma jovem alguns anos mais moça. Mas a perturbação passou. A lividez da pele que era revelada pelo luar era o que o perturbava agora. Que desvario ver suas formas nuas de neve. Deitou-se sobre ela. Houve um espasmo molhado. Um pedaço de chumbo, parecia, forçava uma fenda de seda, estreita e frágil. Dois ais de dor ressoaram da moçoila. “Fingimento cínico!”, pensou ele e continuou o frenesi impetuoso enquanto seus lábios sorviam o néctar dos seios alvacentos. A língua foi pescoço, desceu ao baixo colo e percorreu-o . “O sinal!” Esse pensamento passou-lhe como uma blasfêmia pela mente escaldada de vinho. “O sinal!” Novamente. A cupidez de cevar aquelas formas não podia mais ser detida, mas seu espírito já tresloucava! Tinha visto o sinal! “Meus Deus! A marca de nascença que nos une! O sinal que vi, quando nascia, na filha das entranhas da minha mãe!” A esta frase, seu galope infrene já não era de prazer. O báculo sangrava, as veias rompiam-se, mas em tempo de lançar ao ventre da jovem desvairada pelo que ouvia seiva monstruosa daquele êxtase torpe. O gemido foi de gozo e de desespero, os amantes estertoravam num torvelinho terrificante. Eles se puseram de joelhos sobre a cama:


A Jovem

Que te passa?



Poeta

Não percebes? Tens o sinal que eu carrego! Tu és minha irmã! Não vês que eu sou um maldito? Um maldito!