Os pés são táteis como as mãos. Essa afirmação tem mais implicações do que aparenta, pois não convém vê-los somente com os olhos físicos. Ivan Ângelo, em uma deleitosa crônica erótica sobre os pezinhos femininos, chamou-me a atenção para isso. Ele disse: “Alertam (os pés) para o que é áspero e para o que é suave...”
Não me dei por pago. Decidi entender a fisiologia dos pés feminis, perscrutar-lhes a anatomia. Imagens sobre imagens, linhas, curvas, vincos, pregas teciduais, lóbulos, unhas, pêlos, pele, sombra, luz, flexibilidade, maciez, calcanhar, encanto...tudo isso sobredourado por adornos cosméticos – esmaltes, cremes, talcos etc.
Uma admirável constituição! Partes tão bem ligadas, tão cheias de mimo, dominadoras no conjunto. Castro Alves cantou os pés de suas musas e Dostoievski, num arrebatamento singular, admitiu: “Sob teus pés ponho os meus sonhos; pisa-os com cuidado, pois são meus sonhos que pisas!”. Um inclinado podólatra? Aliás, tal palavra é mais disseminada no Brasil que em Portugal. No inglês, “footfetish”, literalmente ‘feitiço do pé’. Mas não é esse o termo, que tem um árduo estigma. No caso do escritor Russo e de tantos outros, aplica-se muito corretamente o termo “podoesteta”. Sim, pois para eles os pés (femininos, diga-se de passagem) são objetos de contemplação estética e não apenas um elemento de libido. Pablo Neruda não podia deixar de ser citado: “Quando não posso contemplar teu rosto, contemplo teus pés... mas se amo os teus pés é porque nadaram sobre o vento, sobre a terra e sobre a água até me encontrarem”.
Lembrei-me da definição de Machado de Assis a cerca da menina-moça: “Uma rosa entreaberta, um botão entrefechado”. Não se referiu, pois, aos pés de alguma de suas personagens marcantes, mas a licença poética que se me dá aqui me permite aplicar essa metáfora machadiana aos esses belos camafeus do corpo feminino.
Na fisiologia do beijo, impõe-se a sua reatividade, pois eles dizem de suas possuidoras mais do que elas imaginam. O amante desliza os lábios pelo dorso, cevando cada polegada de pele. Os dedos retesam-se e parecem clamar pelos lábios que se avizinham ávidos, já senhores de seu objeto. Para submete-los à total mercê, o amante roça de leve a borda da gelha entre os dedos, uma a uma, levando os lábios aos lóbulos, a língua às pontas, tomando-as de súbito. Mas, voltando à sutileza de toque, tomam-se os lóbulos com a boca até o limite da comissura com o corpo dos dedos e engolem-se por inteiro. A essa altura, a mulher já se extasia e as sensações migram para áreas mais afogueadas. As saliências do corpo se edemificam e o torpor caminha para o ápice.
As coxas, no seu ardente embate, como se resguardassem desesperadas o plúmbeo e fogacento báculo de explodir, não querem mais se aproximar um da outra e, entregando-se à volúpia que lhes convulsiona as carnes, se mioespasmam em direção ao infinito. O amante, com a boca já entregue à sola, compensando o arroubo anterior com o festejo das cosquilhas, vê então os lábios de sua Vênus, de contraído esgar de gozo, passar à soltura do riso até retornar ele a frenética sucção nos dedos. Agora não mais individualizada, mas em grupos, dois a dois, três a três!
Eis o beijo amoroso aplicado aos pés, pois estes recebem todas as emanações do corpo da mulher, basta que ela se dispa, levando a eles a calidez da guardiã dos pelos púbicos.
Não me dei por pago. Decidi entender a fisiologia dos pés feminis, perscrutar-lhes a anatomia. Imagens sobre imagens, linhas, curvas, vincos, pregas teciduais, lóbulos, unhas, pêlos, pele, sombra, luz, flexibilidade, maciez, calcanhar, encanto...tudo isso sobredourado por adornos cosméticos – esmaltes, cremes, talcos etc.
Uma admirável constituição! Partes tão bem ligadas, tão cheias de mimo, dominadoras no conjunto. Castro Alves cantou os pés de suas musas e Dostoievski, num arrebatamento singular, admitiu: “Sob teus pés ponho os meus sonhos; pisa-os com cuidado, pois são meus sonhos que pisas!”. Um inclinado podólatra? Aliás, tal palavra é mais disseminada no Brasil que em Portugal. No inglês, “footfetish”, literalmente ‘feitiço do pé’. Mas não é esse o termo, que tem um árduo estigma. No caso do escritor Russo e de tantos outros, aplica-se muito corretamente o termo “podoesteta”. Sim, pois para eles os pés (femininos, diga-se de passagem) são objetos de contemplação estética e não apenas um elemento de libido. Pablo Neruda não podia deixar de ser citado: “Quando não posso contemplar teu rosto, contemplo teus pés... mas se amo os teus pés é porque nadaram sobre o vento, sobre a terra e sobre a água até me encontrarem”.
Lembrei-me da definição de Machado de Assis a cerca da menina-moça: “Uma rosa entreaberta, um botão entrefechado”. Não se referiu, pois, aos pés de alguma de suas personagens marcantes, mas a licença poética que se me dá aqui me permite aplicar essa metáfora machadiana aos esses belos camafeus do corpo feminino.
Na fisiologia do beijo, impõe-se a sua reatividade, pois eles dizem de suas possuidoras mais do que elas imaginam. O amante desliza os lábios pelo dorso, cevando cada polegada de pele. Os dedos retesam-se e parecem clamar pelos lábios que se avizinham ávidos, já senhores de seu objeto. Para submete-los à total mercê, o amante roça de leve a borda da gelha entre os dedos, uma a uma, levando os lábios aos lóbulos, a língua às pontas, tomando-as de súbito. Mas, voltando à sutileza de toque, tomam-se os lóbulos com a boca até o limite da comissura com o corpo dos dedos e engolem-se por inteiro. A essa altura, a mulher já se extasia e as sensações migram para áreas mais afogueadas. As saliências do corpo se edemificam e o torpor caminha para o ápice.
As coxas, no seu ardente embate, como se resguardassem desesperadas o plúmbeo e fogacento báculo de explodir, não querem mais se aproximar um da outra e, entregando-se à volúpia que lhes convulsiona as carnes, se mioespasmam em direção ao infinito. O amante, com a boca já entregue à sola, compensando o arroubo anterior com o festejo das cosquilhas, vê então os lábios de sua Vênus, de contraído esgar de gozo, passar à soltura do riso até retornar ele a frenética sucção nos dedos. Agora não mais individualizada, mas em grupos, dois a dois, três a três!
Eis o beijo amoroso aplicado aos pés, pois estes recebem todas as emanações do corpo da mulher, basta que ela se dispa, levando a eles a calidez da guardiã dos pelos púbicos.