24 agosto 2009

Dies Sunt

Começo de um conto que veio-me cá como um pensamento buliçoso na minha ânsia de me iniciar definitivamente na literatura. Tenho-me debatido entre dous infinitos - as teorias de Fillmore, de Algirdas Greimas e outros tantos do panteão da Linguística e as concepções ora formalistas, ora sócio-candidianas da criação literária. Minhas experiências nessa área última me têm sido apenas de leitor crítico-invasivo, mas creio que os dias de homo faber litterarum já me são chegados.

Dou a lume este começo de conto nascido da premência de perlustrar a vida humana nos seus aspectos mais íntimos e pertubadores. Ele, no entanto, é tão introdutório que permite a percepção apenas do ritmo, do ambiente, dos elementos realísticos que formam a teia de uma atmosfera humana tão contemporânea, infimamente tolerável como a da Rua do Comércio, aquele curral verminoso, lugar de concretização nauseante da entropia capitalista, da despersonalização, da fragmentação.



O ruído cavernoso dos ônibus perpassava a Rua do Comércio e se baralhava às loucas vociferações dos anunciantes de produtos. Era maio, mês de tulipas e bocas-de-leão em oferta a poucos metros dali, na Rua do Livramento com bancas fartas em espécimes. Eram dez da manhã, o bafejo da brisa quente mal confortava os transeuntes que atulhavam a outrora Rua Conselheiro Sinimbu.

O bulício se estendia de ponta a ponta e desembocava no calçadão como um afluente que alimenta as águas de um rio caudaloso. Um odioso rito diário de pessoas das mais diversas. Velhos em seu passo lento e quase trôpego, crianças arrastadas por suas mães sobraçando bolsas ou embrulhos, estudantes fardados, funcionários engravatados, apressados, avezados a nada ver à sua frente a não a ser massa borrão desprezível em sua marcha interminável.

Ao longo da rua, estendem-se inúmeras paradas de ônibus que recebem uma turba invariavelmente amorfa. Vêem-se tão-somente pés, braços, pescoços, gorduras como colóides em fissão violenta. Rapidamente, entretanto, tudo se desfaz num movimento fibrilante, tal um saco cheio de vermes expelindo seus humores. É o momento de subir no ônibus, tal arca de Noé a conter espécies que podiam perfeitamente perecer no dilúvio.


8 comentários:

Nayara Macena Gomes disse...

Pedroca, começou bem... Só não gostei de uma coisinha de nada: as tulipas. São de plástico ou oníricas? Sei lá... Numa paisagem quente e abafada como essa, tulipas parecem um refúgio da mente... Qause uma alucnição... Se bem que isso pode ser um contraste, né? É! Deixa assim mesmo! :D

Nayara disse...

http://baunilhaemorangos.blogspot.com/2009/08/cabelo-cacheado-2.html

>> Acho que minha surpresa decorre de uma erro cruel da literatura: liguei a região onde ocorrem as tulipas à paisagem descrita... São plantas que preferem lugares frios. Se vc quiser criá-las em São Paulo, por exemplo, após a florada, vc precisa cortar um não-sei-o-quê e congelar por seis meses para simular o ambiente natural delas...

Isso entra naquela parte sobre a ficcionalidade da ficção...

Nayara disse...

Ou alguma coisa do tipo...

Nayara disse...

Erro meu...

Nayara disse...

Vc achou parecida com Avril Lavigne? Haha, achei não... Talvz o timbre da voz nos primeiros versos... De qqr forma, não duvido das flores carnívoras... Se elas aparecem no seu conto, a paisagem vai parecer um inferno, viu? hehe...

Nayara disse...

I very much enjoyed your songs, but I dare say I fell in love with Edith Piaff's!

Magno A. disse...

E que você adentre os portões do magnífico existir em letras rabiscadas. "Desvirgine" folhas de papeis com força,não tenha pena alguma, não tema a nada. Bem, é o que eu faço, vez ou outra.
E ah,obrigado pela visita.
Abraço
Magno.
:)

Anônimo disse...

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